Nos passos cotidianos, a memória deles espreita. Abafadas pelo barulho de carros, motos e pessoas, as vozes do passado quase silenciam. Mas estão ali. Vivem nas placas, às vezes até nos prédios, sempre observando. Ilustres médicos gaúchos deixaram seus nomes nas ruas de muitas cidades, inclusive na Capital, como um prontuário que mostra o exemplo dos seus feitos para as gerações que de médicos que chegaram desde então.
Andar por Porto Alegre pode ser um exercício que revela personalidades em toda parte. E médicos ilustres estão entre as pessoas que por algum motivo agora estampam as placas.
Zero Hora percorreu a cidade em busca de algumas das principais ruas e seus padrinhos, como Protásio Alves, Ramiro Barcelos, Aureliano de Figueiredo Pinto e Sarmento Leite, para descobrir a história que se esconde nas placas e nas esquinas.
Protásio Alves
A grande avenida que corta parte de Porto Alegre tem o nome de Protásio Alves, médico e político nascido em Rio Pardo em 1858. Protásio Alves formou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e, em seguida, foi eleito deputado estadual no RS. Também foi vice-presidente da província do Rio Grande do Sul. Como médico, deixou um legado para a Capital: fundou o Curso de Partos, que daria origem à Faculdade de Medicina, também fundada por ele. Como secretário do Interior, defendeu investimentos em saneamento, lutou contra a tuberculose e as verminoses, que atingiam uma grande parcela da população. A nomeação da avenida Caminho do Meio como Protásio Alves ocorreu por decreto da Câmara de Porto Alegre, em julho de 1936.
Ramiro Barcelos
Ramiro Barcelos, gaúcho de Cachoeira do Sul, formou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1851, mas também acumulou as carreiras de militar, jornalista e político. Exerceu mandatos de deputado provincial e senador. Também foi grande apoiador da Santa Casa de Porto Alegre. Escrevia artigos e poemas, mas sua grande obra foi o poemeto campestre Antônio Chimango, que ele fez em razão de uma briga política com Borges de Medeiros e é considerado hoje um clássico da literatura regional. De acordo com informações da Biblioteca da Câmara Municipal de Porto Alegre, a Rua Ramiro Barcelos não foi denominada por lei, mas pelo uso popular do nome, no cotidiano da cidade. Nela, fica o Hospital de Clínicas, ligado à Faculdade de Medicina da UFRGS.
Aureliano de Figueiredo Pinto
A rua larga e arborizada leva o nome do médico e escritor nascido em Tupanciretã no ano de 1898, Aureliano de Figueiredo Pinto. Em 1924, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde cursou os primeiros anos de Medicina, curso que concluiu em Porto Alegre, em 1931. Sua literatura revela a paixão que tinha pelos temas rurais. Tanto que, ao ser convidado a assumir a chefia da Cátedra Médica na Faculdade de Medicina da Capital, preferiu permanecer atendendo em seu consultório na cidade de Santiago. No final da vida, em 1959, viu publicada sua grande obra: Romances de Estância e Querência. A antiga Avenida C, no bairro Praia de Belas, foi batizada com o nome do médico e poeta no dia 5 de julho de 1960, com o decreto do então prefeito José Loureiro da Silva.
Sarmento Leite
Diplomado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, o porto-alegrense Eduardo Sarmento Leite da Fonseca nasceu em 1868. Foi um dos fundadores, com Protásio Alves, da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, onde foi professor e vice-diretor. Ao voltar para a cidade depois de formado, trabalhou na Santa Casa, dirigiu a Beneficência Portuguesa e foi membro da Academia Sul-rio-grandense de Medicina. A rua recebeu o nome de Sarmento Leite em agosto de 1935, em homenagem ao médico, por decreto do prefeito Alberto Bins. Hoje, a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre fica nesta rua.