A depressão de João Francisco (nome fictício), 33 anos, começou em 2001. À época, prestes a entrar na faculdade, o então estudante notou que, de repente, não tinha mais vontade de sair de casa. Dormia demais, sentia-se desmotivado. Em 2004, veio a crise de euforia: dessa vez, uma sensação de extremo bem-estar o tomou de assalto. Sem nenhum motivo aparente, ele - até então tímido - transformou-se em uma pessoa extrovertida e falante.
- Você não fica alterado. Mas também não fica feliz. O que acontece é que a energia dentro de você fica muito grande. Fiquei eufórico. Você pode ser Deus, se quiser. A pessoa se sente capaz de tudo - afirma.
Uma amiga do escritório em que ele trabalhava percebeu que a situação estava estranha. Aconselhado por ela, João resolveu procurar um médico. Seus altos e baixos ganharam um nome: transtorno bipolar.
- Nunca cheguei a ficar agressivo, mas fico com vergonha das coisas que faço - exemplifica.
Apoio começa em casa
Embora o diagnóstico dos transtornos afetivos só possa ser dado por um médico, Luís Russo, psicólogo e presidente da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata), enfatiza o papel familiar na detecção e tratamento do mal. Como no auge das crises as relações interpessoais do indivíduo ficam comprometidas, a família costuma dar o alerta.
- São comuns as manifestações de hostilidade, enfrentamento, impaciência, dificuldade de ouvir o outro (não prestando atenção no que a pessoa está dizendo, querendo somente impor a sua própria opinião) e isolamento, entre outras - enumera.
Ainda que sejam marcadas por comportamentos fora do "normal", Russo explica que as crises podem, por incrível que pareça, passar despercebidas. Por isso, além do tratamento médico e psicoterápico, Russo defende a família como um terceiro pilar de suporte.
Excesso de proteção
Por melhores que sejam as intenções, a família também pode ser um entrave na melhora de pacientes. Em alguns casos, inclusive, os médicos costumam recomendar sessões de psicoterapia familiar, pois o modo como portadores dos transtornos se relacionam com os que convivem com eles pode ser um desencadeador de episódios. Alguns estilos de relação dentro do contexto familiar podem ser maléficos para o prognóstico.