A proibição da venda de álcool para uso doméstico na forma líquida tem sido amplamente discutida nos últimos anos, com sucessivas idas e vindas judiciais. A discussão é reacendida nesta quarta-feira, quando a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) promove uma série de ações para alertar sobre os riscos de acidentes domésticos com produtos inflamáveis, marcando o Dia Nacional de Luta Contra as Queimaduras.
Em 2002, uma liminar da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) entrou em vigor permitindo somente a venda do álcool em gel. No mesmo ano, a Associação Brasileira dos Produtores e Envasadores de Álcool (Abraspea) conseguiu revogar a decisão na Justiça. Mais recentemente, em 2011, a Comissão de Seguridade Social e Família, da Câmara dos Deputados Federais, aprovou o Projeto de Lei (PL) que previa novamente a proibição do álcool líquido em supermercados. Hoje, a comercialização do produto é liberada.
O cirurgião pediátrico Maurício Pereima e diretor científico da SBQ explica que o álcool líquido corresponde a 20% das causas de queimaduras no país, ocupando uma posição ímpar no mundo.
- As queimaduras motivadas pelo manuseio indevido do álcool líquido diminuíram 60% no período em que a Anvisa proibiu a sua livre comercialização, mas nem mesmo este dado tão promissor parece ter sido suficiente para demover nossos legisladores da intenção de manter o livre comércio do álcool líquido no Brasil - lamenta Pereima.
A coordenadora do Setor de Queimados do Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre, Huguette Bellio, tem a mesma percepção quanto ao álcool gel. Em Porto Alegre, foram registradas mais de 2,6 mil casos de queimaduras em 2011, sendo que pouco mais da metade são adultos e 68% homens.
- Os adultos são mais propensos a acidentes de trabalho. Registramos, no ano passado, que o maior agente de queimaduras é o fogo, seguido de líquidos quentes e eletricidade, que é o maior responsável por queimados graves - detalha Huguette.
Segundo ela, o principal problema desse tipo de acidente é o sofrimento psíquico, pela sensação de grande risco de vida e pelo temor das mutilações.
- A maioria das queimaduras ocorre por falha humana, por descuido, excesso de confiança, irresponsabilidade. Cuidados elementares ao lidar com gás, álcool, líquidos inflamáveis e eletricidade poderiam reduzir ao mínimo a ocorrência de queimaduras - reforça.
São consideradas queimaduras graves aquelas que atingem mais de 30% da superfície corporal e majoritariamente são motivadas por choques elétricos e lesões inalatórias. No Brasil, das vítimas de queimaduras graves internadas em hospitais, vão a óbito em média 5% das crianças e 10% dos adultos. Segundo levantamento do DataSUS, no ano passado, 25 mil pessoas morreram no país após sofrerem queimaduras, que estão entre as principais causas externas de morte, perdendo apenas para outras causas violentas, que incluem acidentes de trânsito e homicídios.
Ações de prevenção
:: Em Porto Alegre, a equipe da Unidade de Queimados do Hospital Cristo Redentor irá distribuir para a população, entre 9h e 17h, folhetos informativos sobre a prevenção de queimaduras na esquina da Rua Domingos Rubbo com a Avenida Assis Brasil.
:: Em Florianópolis, a SBQ lançará o livro Queimaduras: Atendimento Pré-Hospitalar e o gibi da Turma da Mônica Prevenindo Queimaduras, que serão distribuídos na escadaria do Rosário, esquina das ruas Vidal Ramos e Marechal Deodoro, onde também médicos, enfermeiros e outros profissionais estarão à disposição do público para alertar sobre os riscos de acidentes com queimaduras.
Para não se queimar
:: Mantenha a criança longe da cozinha e do fogão, principalmente durante o preparo das refeições.
:: Só permita que as crianças empinem pipas em campos abertos, com boa visibilidade, sem a presença de fios e postes de eletricidade. Oriente quanto aos riscos do uso do cerol e de retirar a pipa caso enrosque na rede.
:: Nas festas juninas, não permita brincadeiras com balões ou de saltar fogueira.
:: Não deixe fósforos, isqueiros e outras fontes de energia ao alcance das crianças.
:: Cozinhe nas bocas de trás do fogão e sempre com os cabos das panelas virados para trás, para evitar que se entornem os conteúdos. O uso de protetores de fogão é um cuidado a mais para evitar que a criança tenha acesso às panelas.
:: Não utilize toalhas de mesa compridas ou jogos americanos. As mãozinhas curiosas podem puxar estes tecidos, causando escaldadura ou queimadura de contato.
:: Mantenha as tomadas protegidas por tampas apropriadas, esparadrapo, fita isolante ou mesmo cobertas por móveis.
:: Guarde todos os líquidos inflamáveis em locais altos e trancados, longe do alcance das crianças.
Caso queime
:: Lave abundantemente com água corrente durante cerca de 20 minutos para evitar o aprofundamento da lesão e diminuir a dor.
:: Evite tocar a área queimada e não use nenhuma substância, como pomadas, sobre a lesão.
:: Nas queimaduras químicas, toda roupa envolvida com a substância deve ser removida e a lesão lavada exaustivamente com água corrente para remoção mecânica dos resíduos.
:: Nos casos de acidentes com pós químicos, os mesmos devem ser rigorosamente removidos por varredura antes da lesão ser limpa com água corrente.
:: Proteja com pano limpo e procure imediatamente atendimento de saúde.
Fonte: SBQ