Ao acompanhar 26 pacientes com problemas cardíacos, durante três meses, pesquisadores do Hospital de Clínicas de Porto Alegre transformaram em científico um ditado popular: rir é o melhor remédio.
A pesquisa dividiu os participantes em dois grupos:
- Metade assistiu a vídeos de conteúdos diversos, como documentários
- E a outra viu filmes de comédia
As sessões foram realizadas duas vezes por semana e acompanhadas pela equipe médica. Ao fim do experimento, todos foram reavaliados. E a surpresa: o coração de quem ficou no grupo das obras de humor estava mais forte.
O benefício medido é comparado ao de um exercício de esteira e se mostrou um excelente tratamento complementar na reabilitação.
— Esses pacientes que participaram no grupo da comédia tiveram um aumento da capacidade funcional em torno de 10%. Isso é muito bom para o paciente cardíaco. Ele se equipara à reabilitação cardíaca convencional, na esteira. E é uma técnica fácil, barata, que qualquer um pode fazer, né? — compara Rosane Maria Nery, doutora em Ciências Cardiológicas e uma das coordenadoras do estudo.
Contagem de risadas
Foi feita ainda uma contagem das risadas das pessoas para comparação entre os pacientes – quem gargalhou, “ganhou mais pontos”.
— O efeito é fisiológico. Quanto mais forte for a risada, mais forte a gargalhada, mais ela movimenta músculos da estrutura corporal, aumenta o ar inspirado e expirado, aumenta a frequência cardíaca do paciente também. Isso tudo faz parte do processo da risada. E sim, a risada foi contagiosa, um começava e daqui a pouco a maioria estava rindo junto — relata a médica.
Risada acompanha os exercícios físicos
No serviço de fisiatria e recuperação do hospital, Márcia Martik Frois, 51 anos, faz suas caminhadas semanais. Ela já passou por um infarto e, mais recentemente, teve um AVC (acidente vascular cerebral). A rotina de atividades físicas busca fortalecer o coração para evitar um transplante.
— Aqui, a gente além do exercício, ri muito. As gurias estão sempre rindo. Nem noto os 40 minutos na esteira — garante a dona de casa.
A média de idade do grupo avaliado na pesquisa foi de 64 anos. Mas aos 81, Jandira Passos Caminha venceu a disputa, com bom humor.
Nos dias em que foi assistir aos filmes, se surpreendeu com colegas que gargalhavam alto, mas notou outras pessoas mais sérias.
— A gente se reunia numa sala, assistia uns vídeos bem divertidos, né? Alguns riam bastante, só que tinha uns mais carrancudos. Talvez preocupados com a própria doença, mas eu sou da teoria assim, ó: não adianta tu te preocupar — relata.
Jandira já teve dois infartos e precisou de uma cirurgia no coração. Mas diz que não pensa no passado.
— A gente sabe que não tem controle de nada. Hoje a gente tá aqui conversando, amanhã será que eu estou? Não sei. Né? É muito imprevisível. Então, a gente tem que viver o aqui e agora — define.