Vinte e cinco pacientes de diabetes do RS participaram de um estudo mundial que atestou a eficácia de uma insulina que, em vez de diária, é aplicada semanalmente. A etapa regional foi realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e, segundo os pesquisadores, demonstrou efeitos positivos.
— A gente tinha uma preocupação muito grande de dar uma insulina semanal e, daqui a pouco, se o paciente tivesse uma hipoglicemia, por exemplo, a medicação ficasse por um tempo muito prolongado, já que é uma dose semanal. Mas isso não aconteceu — afirma o endocrinologista Luis Henrique Canani, que coordenou o estudo com os gaúchos.
A insulina semanal libera o composto gradualmente durante sete dias. Já em uso na Alemanha e no Canadá, inicialmente poderá ser aplicada em adultos, e para o diabetes do tipo 2
— É uma injeção subcutânea, abaixo da pele. Uma agulha muito fina, muito pequena, quase indolor. E ela vai sendo absorvida lentamente do subcutâneo para a corrente sanguínea. E aqui é a grande diferença com as outras insulinas. As outras insulinas, quando são absorvidas, elas já começam a agir. Essa vai se ligar a uma proteína circulante que se chama albumina, que fica circulando e ela fica numa forma de depósito inativa no sangue — explica Canani.
Nos próximos dias, o especialista irá se encontrar com os cientistas do laboratório que desenvolveu a injeção. A ideia é discutir os aspectos educativos, tanto de instrução futura aos pacientes quanto aos médicos, afirma Canani. A insulina deve chegar ao Brasil nos próximos meses.
— A previsão é que venha pro mercado, que possa utilizar, na prática, no primeiro semestre de 2025. O registro da medicação já foi submetido. A parte científica dos estudos, mostrando se ela funciona, se ela é segura, como ela funciona, já foi submetida à Anvisa. Já foi avaliado — informa o médico da Ufrgs e do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Um debate sobre levar a insulina semanal ao Sistema Único de Saúde (SUS) só deve ocorrer após a chegada ao país. Para ampliar seu uso a outros grupos, como crianças, adolescentes e pessoas com a doença do tipo 1, ainda são necessárias mais pesquisas.
"Seria um sonho"
O vigilante Carlos Daniel da Silva, de Novo Hamburgo, trata o diabetes tipo 2 há mais de 15 anos. Sempre que sai de casa, carrega um kit com medidor de glicose e canetas com as doses de insulina.
— Eu sou obrigado a andar com isso. Aí se eu chego em um restaurante, tem que pedir licença, pra ir no banheiro. Mas eu vou lá é fazer insulina. Se eu vou pra uma caminhada, e estiver acima de 30 graus, tenho que levar bolsa térmica pra manter ela gelada. Se a pessoa conseguisse fazer uma vez por semana, seria um sonho. Ia mudar tudo. Tudo, tudo — avalia.
Atualmente, ele precisa de três aplicações diárias. Além do transtorno de transportar a bolsa com os remédios, e parar a rotina para injetar a medicação, há um fator emocional envolvido.
— Tem muito preconceito, as pessoas olham. Eu já cheguei a ouvir, "por que tu não para de trabalhar" — recorda o vigia.
Em busca de um novo estilo de vida
Carlos está com 130 quilos, e diz que precisa emagrecer para não ter a saúde agravada. O diabetes tipo 2 tem um fator genético importante, mas os hábitos de vida influenciam no aparecimento precoce, e na necessidade da medicação contínua - caso consiga perder peso, uma avaliação futura poderia até retirar as injeções.
— Tem que ter uma disciplina. Eu estou liberado para fazer exercício há 45 dias. Mas não fiz ainda — admite.
O diabetes do tipo 1 é uma falha na produção do hormônio da insulina, que controla a glicose.
— Nenhum dos dois tipos hoje tem cura. Eu posso controlar a tipo 2 se eu tiver um bom estilo de vida, atividade física, dieta, perda de peso, talvez até sem remédio. A tipo 1 não. Eu vou ter que usar insulina sempre, porque a pessoa morre se não utilizar insulina — alerta Luis Henrique Canani.
Na luta contra a obesidade, o vigilante conta com a Associação Riograndense de Apoio ao Diabético (Arad), que fica em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos.
— Somos um grupo de 27 associações de todo o Brasil, chamado Vozes do Advocacy. Nos reunimos para melhorar as tecnologias e o acesso à informação dos diabéticos. Fazemos treinamentos, conferências e vamos à Brasília lutar por novas tecnologias — afirma Rosana Blankenheim, presidente da Arad. Ela complementa:
— O diabético tipo 2 ele é bem resistente ao tratamento com a insulina. Se ele tiver acesso a nova tecnologia, a essa insulina semanal, ele vai aderir, porque não vão ser tantas picadas.