Após três meses de impactos decorrentes da enchente, o número de transplantes de órgãos no Rio Grande do Sul começou a ser normalizado entre julho e agosto. De janeiro até agosto, foram realizados 156 transplantes de órgãos sólidos (coração, pulmão, rim, pâncreas e fígado) no Estado. Quando consideradas todas as modalidades de transplantes, o número de cirurgias chega a 499.
Conforme a Secretaria Estadual da Saúde (SES), houve uma perda de cerca de 9,7% no quadrimestre que inclui os meses da enchente em comparação aos primeiros quatro meses do ano.
Reportagem de Zero Hora de julho apontou que os dados de cirurgias de rins tinham caído 40% entre abril e maio, e 36% na comparação entre maio do ano passado e maio deste ano.
— No primeiro quadrimestre, nós fizemos 82 transplantes efetivos de órgãos implantados sólidos. No segundo quadrimestre, que inclui os meses da catástrofe climática, foram 74. Então, os meses de julho e agosto conseguiram recuperar o que a gente perdeu naqueles meses de maio e junho e a gente tem condições de, até o final do ano, recuperar isso como se fosse normal — explicou o coordenador da Central de Transplantes do Estado, Rogério Caruso.
Cerca de 1.200 pessoas estão na fila para receber algum órgão sólido, como rim e fígado. Outras mil pessoas aguardam transplante de córnea. O ritmo após a enchente, entretanto, aumentou, de acordo com a SES. Em 2023, eram realizados em torno de 70 transplantes de córnea por mês. Em 2024, a média subiu para 100.
— Conseguimos reduzir a lista do ano passado pra esse. Claro que esse período aí nos atrapalhou um pouco, mas acho que no ritmo que nós conseguimos colocar agora, que é mais intenso que o anterior, a gente deve conseguir sustentar essa queda (da lista) do ano passado pra cá - projeta o coordenador da Central de Transplantes do Estado, Rogério Caruso.
O principal empecilho provocado pela enchente e que permanece afetando a logística dos procedimentos é a falta do Aeroporto Internacional Salgado Filho.
— Dentro do Rio Grande do Sul, a logística está resolvida. O que temos é um pouco de redução ainda na logística de órgãos que vem de fora do Estado, em função da restrição ainda do aeroporto. Mesmo assim, o nosso maior problema da doação de órgãos continua sendo a mesma coisa, que é a negativa familiar. Porque na hora da doação, no final das contas, o que importa é a opinião da família. E se a família não sabe, se a pessoa tem desejo de ser doadora, muitas vezes não sabe dizer isso na hora.
No próximo sábado (14), ocorre uma caminhada para conscientização da doação de órgãos, em alusão ao Setembro Verde. A concentração começa às 8h na Usina do Gasômetro, em Porto Alegre, com saída marcada para as 9h. O trajeto vai em direção à Rótula das Ruas.
Sistema de regulação
A inserção dos dados no portal, entretanto, ainda não foi normalizada. Os levantamentos de estatísticas anteriores são publicados manualmente. O trabalho também foi afetado pela enchente.
A partir deste mês, um sistema de regulação digital está sendo implementado.
— Toda a parte de documentação e registro das doações de órgãos, a comunicação do potencial doador, a realização dos exames, o acompanhamento que a Central de Transplantes faz dos exames de morte cefálica e depois a comunicação com as equipes transplantadoras para encaminhar para qual paciente é o órgão, organizando a logística, será feita de forma digital e com segurança da informação, de armazenamento de informação — explica Caruso.