O Hospital Mãe de Deus desligou funcionários do Centro Obstétrico, única área da casa de saúde que não retomou as atividades depois da enchente de maio. Desde a semana passada, a possibilidade de um fechamento permanente do setor materno-infantil da casa de saúde preocupa entidades médicas. Para o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers), demissões podem indicar que instituição considera não retomar os serviços.
— Foram demitidos alguns funcionários que tinham carteira assinada, alguns plantonistas do Centro Obstétrico, alguns da equipe de neonatologia e alguns anestesistas também. Eles vieram falar conosco, preocupados porque perderam seus empregos. Então, certamente, essa previsão de reabertura, se existe, não é a curto prazo. Isso quer dizer que mudou a estratégia. A estratégia parece ser o fechamento do setor em definitivo — defende o presidente do Cremers, Eduardo Neubarth Trindade.
Questionado por Zero Hora, o Hospital Mãe de Deus confirmou que ocorreram demissões, mas não detalhou quais áreas do Centro Obstétrico foram afetadas e nem quantos funcionários foram desligados. Em uma nota, enviada na última quinta-feira (25), a casa de saúde afirmou que não tinha previsão para a reabertura da maternidade e que “depois de um período fechada em razão da enchente, a instituição tem trabalhado para voltar a seu funcionamento pleno”.
Além do Cremers, o movimento preocupa outras entidades médicas, como o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) e a Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio Grande do Sul (Sogirgs), que já emitiram comunicados de repúdio contra o fechamento definitivo da maternidade. Para os especialistas, a interrupção desses serviços, mesmo que temporária, pode sobrecarregar outros hospitais de Porto Alegre.
— Isso é um problema muito grande, porque o sistema funciona em rede. Mesmo sendo uma instituição privada, a sociedade necessita desses leitos. São necessários centros obstétricos e são necessários leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) neonatal, de um sistema que já está sobrecarregado — pontua Trindade.
A Capital conta com 232 leitos de maternidade na rede pública e 117 na rede privada. O Mãe de Deus era responsável por 18 desses leitos de maternidade e 10 leitos de UTI neonatal, espaços destinados aos planos de saúde. A Secretaria de Saúde de Porto Alegre (SMS) afirma que ainda é cedo para saber se haverá reflexo na rede pública.
— Por enquanto, o fechamento pressiona serviços que não são SUS (Sistema Único do Saúde) e não podemos afirmar que parte dessa demanda virá para o SUS da Capital. Até semana passada, a ocupação dos leitos de obstetrícia estava sem sobrecarga — analisa a diretora-geral da SMS, Fernanda Fernandes.
Convite para debate
Pensando em todas essas preocupações, o Cremers agendou uma mesa de negociação com integrantes da administração do Hospital Mãe de Deus, operadoras de planos de saúde, entidades médicas e poder público. O encontro, que ocorre na próxima quinta-feira (1°), visa promover o diálogo e buscar soluções para a retomada dos serviços. A casa de saúde ainda não confirmou a presença.
— Se é pela questão financeira esse eventual fechamento, é importante que estejam presentes nessa reunião os convênios de saúde, para ver se conseguem remunerar de uma forma melhor. É realmente uma conversa entre todos os entes para ver como viabilizar — afirma o presidente do Cremers.