O cenário de calamidade enfrentado no Rio Grande do Sul aumenta exponencialmente o risco para doenças respiratórias, preocupação dos especialistas sempre que chegam os meses frios. Nos abrigos, as aglomerações e a pouca ventilação facilitam a transmissão de vírus. Médicos ressaltam as medidas que devem ser tomadas, dentro das possibilidades, por abrigados, voluntários e demais pessoas que estão nesses ambientes.
Há inúmeros casos de pessoas que perderam tudo, inclusive suas medicações de uso contínuo. A interrupção do tratamento para enfermidades como asma, somada à situação de favorecimento de infecções virais e bacterianas, está entre os principais perigos.
— As pessoas estão expostas ao frio e ao mofo em um ambiente fechado e com muita gente. O ambiente fechado já é um risco normalmente no inverno, e agora toma uma proporção gigantesca. É a pior época do ano e pior ainda agora — alerta Manuela Cavalcanti, médica pneumologista da Santa Casa de Porto Alegre e presidente da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Rio Grande do Sul.
A grande concentração de pessoas em um mesmo local é o problema mais difícil de driblar. Gustavo Chatkin, pneumologista do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e professor da Escola de Medicina da mesma instituição, ilustra com um exemplo:
— Aquilo que acontece nas escolas, com as crianças se abraçando (e transmitindo vírus umas para as outras), agora acontece dentro de um ginásio com pais e avós junto. Uma criança com influenza está a três, quatro metros de um senhor tratando um câncer (e com imunidade comprometida).
Sintomas devem ser relatados aos médicos nos abrigos
A presença de médicos nos abrigos ajuda a controlar a situação. Quem teve de parar o uso de remédios contínuos precisa sinalizar isso às equipes de saúde. Dentro das possibilidades, é preciso favorecer a ventilação, distribuir máscaras para quem apresentar sintomas respiratórios, higienizar as mãos e praticar a etiqueta respiratória (cobrir a boca com a dobra do braço na hora de tossir ou espirrar). Entre os sintomas que devem ser relatados aos médicos, estão tosse, espirro, coriza, febre, sudorese, dor de ouvido e de garganta, congestão facial (sensação de pressão no rosto) e voz anasalada. É importante que uma infecção simples seja contida para não se tornar algo mais grave.
— Abrigos são ambientes com muitas restrições e temos a máxima ciência disso. O importante seria conseguirmos que as medicações não fossem interrompidas e identificar precocemente as pessoas com infecção respiratória para que sejam tratadas e orientadas —diz Manuela.
Outro ponto importante é a exposição a mofo nas residências e demais locais tomados pela água. Pacientes com doenças respiratórias e imunidade reduzida, como transplantados ou com câncer, não devem ser os responsáveis pela limpeza desses locais.
Tuberculose
Há também grande preocupação quanto à tuberculose. A doença é transmitida pelo ar, através das vias áreas superiores, principalmente por meio de tosse e espirro. A Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre orienta que todos que são encaminhados a abrigos devem passar por triagem, sendo questionados sobre presença de tosse, especialmente com catarro — em caso positivo, devem fornecer uma amostra para exames. A pasta lista orientações específicas para pacientes com diagnóstico confirmado e prevenção de transmissão.