Mais de 6 mil pessoas atingidas pela enchente em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, estão sendo acolhidas no campus da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). O número de desabrigados exige um grande esforço da instituição, do poder público e dos voluntários, para que ninguém seja desassistido.
A universidade vem trabalhando numa forma de realizar a contabilização de todas as famílias atendidas no local. A quantidade supera em muito o previsto inicialmente, na última sexta-feira (3).
— Nós esperávamos abrigar em torno de 300 a 400 pessoas, mas a amplitude da tragédia fez chegar muito mais gente. Estima-se que, no fim de semana, circularam entre 30 e 35 mil pessoas aqui no campus. Se tornou quase um cenário de guerra — relata o reitor, Thomas Heimann.
De acordo com o gestor, a Ulbra disponibilizou vários prédios e o seu complexo esportivo para dar conta de todos os desabrigados. Nas palavras de Heimann, o local tornou-se “uma cidade dentro de uma cidade”. E não é à toa: a atual quantidade de acolhidos no campus supera a população de 266 cidades gaúchas, segundo o IBGE.
O objetivo, agora, segundo o reitor, é dar o máximo de dignidade a essas pessoas em meio a um “cenário de caos”.
— Você imagina criar uma cidade num prazo de 12 a 20 horas. Estamos definindo responsáveis pela área da saúde, pelo acolhimento psicossocial, pela alimentação. São movimentos para criar um clima de segurança dentro do campus porque temos que levar em consideração que boa parte das pessoas que estão aqui literalmente perderam tudo. O nível de angústia e dor é muito grande. Vivemos um clima de muita comoção — explica.
No campus, agentes da Polícia Civil, soldados da Brigada Militar e servidores da Guarda Municipal podem ser encontrados por todos os lados. Um comitê de crise da segurança pública foi montado no local.
— Uma coisa é você garantir segurança de uma cidade e outra é garantir a segurança onde estão muitas pessoas sem o seu perímetro definido. Essas pessoas precisam descansar, resguardar seus pequenos bens de valor — destaca um dos diretores, Hans Kuchenbecker.
Mobilização necessária
Ao entrar no prédio 16 da universidade, impressiona a quantidade de doações espalhadas pelo local. O número de voluntários mobilizados também. Uma verdadeira força-tarefa foi montada para garantir a assistência às famílias instaladas no campus. Além disso, inúmeros kits são encaminhados para outros abrigos de Canoas.
Mesmo com tantos donativos, recebidos por pessoas de vários lugares do Rio Grande do Sul e de outros estados do Brasil, a quantidade é insuficiente. Até porque as necessidades se repetem dia após dia e não se sabe por quanto tempo a universidade terá de servir como abrigo para milhares de pessoas, sem falar nos quase dois mil animais.
— Não é nem necessário pedir doação. O caos fala por si só — comenta Kuchenbecker.
Além disso, o diretor menciona a necessidade de mais voluntários. Hoje, são cerca de 1,2 mil cadastrados na Ulbra, mas em alguns momentos do dia há menos que em outros, e eles fazem falta.
Moradora da Mathias Velho, um dos bairros devastados pela inundação, a voluntária Susiane Silve Ferreira nem pensa em ficar parada, mesmo que seus pais também tenham perdido tudo em meio à água, e incentiva outros a ajudarem:
— É bem angustiante. Todo mundo que a gente conhece, vizinhos, colegas, familiares, tá todo mundo na mesma situação. Não tem muito o que fazer agora, muito menos ficar em casa parada com um monte de gente precisando de ajuda. O que podemos fazer é nos voluntariar.