Em exibição nos cinemas, Coringa: Delírio a Dois, promete mergulhar ainda mais fundo na mente conturbada do protagonista, agora acompanhado por sua parceira, Arlequina. No novo longa, ambos enfrentam um desafio ainda mais intrigante: o raro transtorno psiquiátrico conhecido como folie à deux (loucura a dois, na tradução para o português).
Apesar de estar na ficção, essa é uma doença mental real, conforme explica o psiquiatra Flávio H. Nascimento:
— É uma condição considerada rara e documentada há relativamente pouco tempo em relação a outros distúrbios.
O que é folie à deux?
O termo francês descreve um transtorno delirante induzido, considerado raro, em que duas pessoas dividem uma mesma ilusão ou delírio compartilhado. Geralmente ocorre em relacionamentos próximos, como entre casais, irmãos ou amigos íntimos, em que uma pessoa induz ou influencia a outra a adotar suas crenças ou ideias irracionais.
Normalmente, mas não exclusivamente, há confinamento entre ambos ou muito contato e pouca influência exterior. O transtorno pode gerar comportamentos perigosos e é diagnosticado por um psicólogo ou psiquiatra com base na observação do convívio entre as pessoas.
Contágio psiquiátrico
Ainda não se entende completamente como o transtorno se desenvolve. Mas sabe-se que a forte convivência com pouco contato exterior e compartilhamento de tarefas, interesses, ideias, crenças e opiniões se fazem presentes.
Entendem-se dois atores para a síndrome — um, mais ativo, inteligente e psicótico, responsável por produzir e apresentar inicialmente as ideias delirantes primárias; o segundo, com papel mais passivo diante da situação, com personalidade mais sugestionável, limitações físicas ou psicossociais, favorecendo, gradualmente, a assimilação das ideias distorcidas em uma espécie de “contágio psiquiátrico”.
A condição também pode se manifestar como folie à trois, à quatre etc., quando são envolvidos mais personagens no delírio sob as mesmas condições de quando ela ocorre em dupla. Ou seja, ambiente recluso e interações externas limitadas.
Tratamento para o transtorno folie à deux
Segundo Nascimento, o tratamento para o transtorno folie à deux ainda é escasso, mas a separação e a psicoterapia são os principais meios. Isso pela síndrome ser relativamente nova e bastante rara. Assim, a condição possui poucos tratamentos, sendo baseada quase que exclusivamente na separação entre os dois indivíduos.
— Essa abordagem costuma ser mais eficaz para o indivíduo "secundário" afetado pela loucura do agente principal. Já o indutor costuma passar por internação, psicoterapia individual, e familiar e tratamento farmacológico — explica o médico.