A América Latina e o Caribe já registraram 3,5 milhões de casos de dengue e provavelmente enfrentarão sua "pior temporada" da doença em 2024, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). O alerta foi dado nesta quinta-feira (28). Segundo a organização, a doença é favorecida pela combinação do fenômeno El Niño com as mudanças climáticas.
Até 26 de março, as Américas registraram mais de 1 mil mortes, afirmou Jarbas Barbosa, diretor da Opas, em coletiva de imprensa. No Rio Grande do Sul, até agora, foram 47 mortes registradas.
— É um motivo de preocupação, pois representa três vezes mais casos do que os relatados para a mesma época em 2023, um ano recorde com mais de 4,5 milhões de casos notificados na região — acrescentou.
O aumento é observado em todos os países da América Latina e do Caribe, mas principalmente em três do Cone Sul: Brasil (81%), seguido por Paraguai (6%) e Argentina (3,4%), que representam 92% de todos os casos e 87% das mortes. Isso acontece porque a dengue segue um padrão sazonal e a maior parte da transmissão no hemisfério sul ocorre no primeiro semestre do ano, durante os meses mais quentes e chuvosos.
O que chama atenção é que em outros países onde se espera uma alta transmissão na segunda metade do ano, como Costa Rica, Guatemala e México, o aumento dos casos é anual. E a presença do mosquito vetor está sendo observada em áreas onde não era conhecida, como no Uruguai.
— As causas ambientais desempenham um papel-chave. O aumento das temperaturas e a maior frequência de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, secas intensas que levam as pessoas a armazenar água de forma inadequada e tempestades e inundações, podem aumentar a proliferação do mosquito — afirmou Barbosa.
— A combinação do fenômeno El Niño com as mudanças climáticas coloca em risco todas as grandes cidades que estão em áreas tropicais e subtropicais da região, porque o mosquito vetor pode proliferar de maneira muito rápida nesses lugares — acrescentou.
Também importam os fatores sociais, como o rápido crescimento populacional, a urbanização não planejada, as habitações precárias, o saneamento insuficiente e a eliminação inadequada de resíduos. A melhor forma de controlar a transmissão é eliminar os criadouros de mosquitos, tanto nas residências particulares quanto em locais públicos como parques, comércios e praças.
Eliminar os criadouros
— Cerca de 80% dos criadouros de mosquitos estão nas casas das pessoas ou nas proximidades — assegurou Barbosa.
Isso é muito mais eficaz neste momento, segundo ele, do que vacinas ou novas tecnologias como o uso de uma bactéria, a Wolbachia, "que pode prevenir que o mosquito seja infectado pelo vírus".
— A vacina que temos disponível não vai erradicar a epidemia de dengue, porque tem um alcance limitado — afirmou na coletiva de imprensa o médico Daniel Salas, gerente executivo do programa especial de imunização integral da Opas.
Essa vacina, recomendada dos 6 aos 16 anos, é administrada em duas doses com três meses de intervalo, e estudos mostram, de acordo com a Opas, que são necessários oito anos de vacinação para se obter um impacto significativo na transmissão.
A bactéria, por sua vez, "é uma nova arma potencial para o futuro", mas no momento está em uma fase de estudo piloto, disse o médico Sylvain Aldighieri, diretor do departamento de previsão, controle e eliminação de doenças transmissíveis da Opas.
A doença, que causa febre, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dor muscular e nas articulações, é transmitida pela picada de um mosquito infectado, o Aedes aegypti. Existem quatro sorotipos de dengue, e a circulação simultânea de dois ou mais pode aumentar o risco de epidemias e suas formas graves. Até o momento, 21 países das Américas relataram a circulação de mais de um sorotipo, segundo a Opas.