A sexta edição do projeto Ninho Solidário, promovido pela rede Nós Tentantes - Projeto de Vida, vai beneficiar gaúchas com diagnóstico recente de câncer de mama com congelamento de óvulos e fertilização in vitro gratuitos. Duas pacientes serão contempladas com os procedimentos, oferecidos gratuitamente pelo projeto em parceria com a clínica Generar Reprodução Humana e o Centro de Reprodução Humana Insemine, de Porto Alegre.
Diferentemente do que ocorreu em edições anteriores do Ninho Solidário, desta vez não há como se inscrever. A seleção das duas pacientes está sendo feita diretamente pelo Instituto da Mama do Rio Grande do Sul (Imama) em articulação com hospitais que realizam tratamento do câncer de mama pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A divulgação das contempladas será feita no dia 13 de novembro, em live no Instagram da Nós Tentantes - Projeto de Vida.
Entre os requisitos analisados pelo Imama estão a idade, que não pode ser superior a 38 anos, o número de folículos antrais nos ovários da paciente e a gravidade do tumor (regulamento completo aqui). Também é requisito que a paciente não tenha filhos vivos, não possua condições financeiras de arcar com a fertilização e ainda não tenha iniciado tratamento quimioterápico ou radioterápico. Ou seja, o projeto é destinado a pacientes com diagnóstico recente.
Tratamentos oncológicos x Fertilidade
A idealizadora da rede Nós Tentantes - Projeto de Vida, Karina Steiger, explica que a coleta dos óvulos precisa ser realizada antes do início das terapias oncológicas, pois são elas as principais responsáveis pelos danos à fertilidade.
— Às vezes as pacientes não são inférteis, mas acabam ficando após o início dos tratamentos. Por isso é tão importante realizar a preservação dos óvulos: para que, quando estiver curada, ela possa ter a opção de realizar uma fertilização e engravidar. Se não há essa preservação dos óvulos, a esperança de um dia ser mãe vai por água abaixo — explica Karina.
Conforme dados do Ministério da Saúde, o risco de uma paciente oncológica ficar infértil é superior a 50%, sobretudo se possuir idade superior a 30 anos. Isso porque a quimioterapia pode causar danos diretos aos óvulos e aos folículos ovarianos, fazendo com que os ovários percam sua função, além de induzir a paciente à menopausa precoce. Já a radioterapia pode comprometer a fertilidade se atingir a região pélvica.
Barreira financeira
Entre os serviços que serão oferecidos pelo Ninho Solidário estão consultas médicas, exames prévios, um ciclo de congelamento de óvulos completo (com medicações, coleta e congelamento dos óvulos), armazenamento dos óvulos por cinco anos, um ciclo de fertilização in vitro completo (com medicações e exames), uma transferência de embriões e congelamento e armazenamento de embriões excedentes por um ano. O valor dos procedimentos gira em torno de R$ 75 mil.
Segundo Karina Steiger, a questão financeira é uma das principais barreiras para famílias que precisam recorrer à tratamentos de fertilização. Ela e o marido, Pedro Corbetta, são pais do pequeno Enrico, cinco anos. A gravidez veio quando os dois, após quatro anos realizando fertilizações frustradas, optaram por recorrer à ovodoação (fertilização com óvulos doados).
O procedimento tem valor elevado e foi realizado graças à contribuições que o casal recebeu em uma vaquinha.
— Sabemos o que é a dor de tu não conseguires ter um filho por causa de dinheiro — diz Karina.
A dificuldade financeira que o casal enfrentou durante a gestação do filho foi o que motivou a criação do projeto Ninho Solidário, que realizou sete fertilizações em suas cinco edições já finalizadas, contemplando casais hetero e homoafetivos. E além dos dois procedimentos que agora serão doadas às pacientes oncológicas, o projeto ainda deve realizar mais uma edição em dezembro, destinada a mães solos. A iniciativa é possível por meio de parcerias com clínicas de reprodução.
Já a rede Nós Tentantes - Projeto de Vida, na qual o Ninho Solidário está inserido, oferece diferentes tipos de serviços gratuito. O foco principal é servir como rede de apoio aos chamados "tentantes", as pessoas que estão em busca de uma gravidez.
— Na época em que eu e o Pedro passamos por isso, foi um caminho muito solitário. Hoje, a gente consegue ajudar centenas de famílias, servir de apoio, tirar dúvidas, colocá-las em contato com médicos... O que queremos é encurtar caminhos para que as pessoas possam ter acesso à diferentes formas de gerar amor — afirma Karina.