As vacinas de RNA mensageiro marcaram o ponto mais alto de uma revolução terapêutica. Nesta segunda-feira (2), seus desenvolvedores - Katalin Karikó (Hungria) e Drew Weissman (Estados Unidos) - foram anunciados como vencedores do Prêmio Nobel de Medicina.
A transformação trazida pelo RNA mensageiro reside em fazer as células produzirem diretamente os antígenos. Com eles, o sistema imunológico reage, gerando anticorpos.
Uma descoberta que também poderia ser usada contra a AIDs e alguns tipos de câncer, depois de décadas de pesquisas e vários obstáculos.
O RNA mensageiro é essencial para o funcionamento das células. Ele atua como uma cópia temporária de uma pequena parte do DNA. É utilizado para produzir proteínas específicas.
Como funciona?
Pelo tratamento, os fragmentos do RNA mensageiro são criados artificialmente em laboratório e inseridos externamente. Até agora, a principal aplicação foi na vacinação contra a covid-19, área em que atuam duas empresas conhecidas: Pfizer/BioNTech e Moderna. Essas vacinas induzem as células a reproduzirem proteínas presentes no vírus, os antígenos, para familiarizar o sistema imunológico a reconhecê-lo e neutralizá-lo.
Uma vacina clássica também procura familiarizar o organismo com um vírus (ou outros agentes infecciosos), mas o faz introduzindo-o diretamente no corpo, em uma forma atenuada, ou inativa (embora algumas vacinas mais recentes apenas injetem os antígenos do vírus).
As principais etapas deste novo método
No final da década de 1970, o primeiro grande avanço foi o uso de RNA mensageiro para fazer as células em tubos de ensaio produzirem proteínas. Uma década depois, os cientistas conseguiram obter os mesmos resultados com ratos, mas o RNA mensageiro ainda tinha duas grandes desvantagens como ferramenta médica.
Primeiro, as células dos animais vivos resistiam ao RNA mensageiro sintético, provocando uma resposta imunológica perigosa. Além disso, as moléculas de RNA mensageiro são frágeis, o que dificulta sua entrega ao sistema sem alterá-las.
Em 2005, Kariko e Weissman, da Universidade Estadual da Pensilvânia (EUA), publicaram um estudo que mostrava que um envelope de lipídios, ou moléculas de gordura, poderia entregar RNA mensageiro de forma segura e sem efeitos negativos. A pesquisa causou alvoroço na comunidade farmacêutica, e startups dedicadas a terapias com RNA mensageiro começaram a surgir em todo o mundo.
Outras aplicações
A comunidade científica tem trabalhado para desenvolver vacinas de RNA mensageiro para doenças como gripe, raiva e zika, além daquelas que têm sido resistentes às vacinas até agora, como malária e HIV/aids.
Os pesquisadores também começaram a testar tratamentos personalizados em pacientes com câncer, utilizando amostras das proteínas presentes nos seus tumores para criar RNA mensageiro especializado. Isso faz o sistema imunológico atacar células cancerígenas específicas.
— A plataforma de RNA mensageiro é versátil. Qualquer proteína pode ser codificada como RNA mensageiro, portanto há muitas aplicações potenciais — disse Norbert Pardi, bioquímico da Universidade da Pensilvânia.