Não é incomum ouvir que no Rio Grande do Sul "se tem as quatro estações do ano em uma única semana", pois o inverno de 2023 está tendo mais dias quentes do que o comum. De acordo com dados levantados por meteorologistas da Climatempo, a estação está quase 2°C acima da média no território gaúcho. Ainda segundo os prognósticos, a alternância entre dias quentes e frios deve se estender durante o resto do inverno, que termina setembro no dia 22 de setembro.
Também não são raros os relatos de pessoas que ficaram doentes nessa época que os dias frios e quentes ficam muito próximos. A pneumologista da Santa Casa de Porto Alegre, Manuela Cavalcanti destaca que a variação de temperatura, principalmente quando há queda nos termômetros, está relacionada com doenças respiratórias.
Ela explica que o frio e a redução na umidade do ar causam o ressecamento da mucosa e a redução da produção de muco, que são importantes mecanismos de defesa das vias aéreas. Além disso, a baixa umidade aumenta a exposição à poluição e à gotículas em suspensão com vírus e bactérias.
O resultado da diminuição dos mecanismos de defesa das vias aéreas e da maior exposição a agentes agressores é o grande número de pacientes com sintomas respiratórios nesta época do ano. E no cenário atual, de maior variação de temperatura, pode não existir tempo o suficiente para que a mucosa respiratória consiga se adaptar de forma adequada. Manuela destaca também que o processo de adaptação do nosso corpo a redução abrupta da temperatura pode gerar outras consequências, como o aumento do risco de doenças cardiovasculares, além das enfermidades respiratórias.
Contudo, ela observa também que, no inverno de 2023, além da amplitude térmica, outro fator importante é a ampla dispersão viral e a redução das medidas sanitárias como o afastamento de sintomáticos respiratórios, uso de máscara, que ocorreu durante a pandemia de covid-19. Atualmente, em Porto Alegre, as emergências dos hospitais e Unidades de Pronto Atendimento estão com uma taxa de lotação 80% acima do número de leitos disponíveis.
— É recomendado que quem tem qualquer doença respiratória siga monitorando seu estado de saúde e usando regularmente as suas medicações. Medidas gerais como se manter hidratado, deixar os ambientes ventilados, evitar contato com pessoas com viroses respiratórias, e manter a cobertura vacinal em dia são cuidados que todos devem ter — afirma.
A variação nas temperaturas em um curto espaço de tempo também está ligada ao sistema de imunidade. Segundo a imunologista e alergista da Santa Casa de Porto Alegre, Helena Fleck Velasco, o corpo humano naturalmente é "programado" para fazer a regulação térmica com base no ambiente externo. Por isso, em pessoas saudáveis, a oscilação nos termômetros não deve representar qualquer risco à saúde. Contudo, se essa variação for constante, pode afetar o sistema imunológico devido ao estresse que o corpo precisa fazer para se aquecer e resfriar. Nesse caso, existe uma maior chance de infecções.
Crianças e idosos, de acordo com Helena, são os mais propensos a ficarem doentes dentro dessa situação. Isso demanda diversos cuidados, como observar as vestimentas adequadas para o clima, ter boas noites de sono e cuidar de alimentação para melhorar o sistema imunológico.
— Outra dica interessante é ficar perto de áreas verdes, pois árvores e plantas naturalmente já fazem o equilíbrio térmico da região, o que deixa o clima mais ameno e não tão suscetível a grandes variações — aponta.
Segundo a Climatempo, a tendência é que essa variação térmica siga também no início da primavera, que começa no dia 23 de setembro. Contudo, os picos de calor intenso vão ficar mais frequentes no Estado por conta do fluxo de ar quente vindo da região amazônica e do Brasil Central, o que deve deixar as temperaturas mais estáveis.
Produção: Gabriel Mattos