Jihan Zoghbi (*)
Recentemente, o governo do Rio Grande do Sul decretou estado de emergência em saúde pública em decorrência do salto nos números de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em crianças. Consequentemente, essa alta resultou no crescimento de internações de leitos hospitalares e de unidades de terapia intensiva (UTI) pediátrica. Foram mais de 700 internações em cuidados intensivos do começo do ano até a primeira semana de julho, de acordo com dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES).
A quase 4 mil quilômetros de distância dos gaúchos, Pernambuco também se viu obrigado, em junho, a decretar situação de emergência em razão da alta nos casos de SRAG. No Estado nordestino, a imprensa local noticia mais de 2,3 mil casos e 50 mortes em crianças de até 10 anos.
Em uma rápida pesquisa pela internet, nota-se que esses eventos do Sul e do Nordeste não são isolados: Estados de outras regiões do país estão com o alerta aceso para o aumento nos indicadores de problemas respiratórios nos pequenos. Em comum a todos esses lugares, estão a superlotação, a ausência de vagas e a fila de espera para ingressar em um leito especializado.
Antes desses casos, em maio, o Amapá se viu diante de uma crise que obrigou algumas casas de saúde a usarem salas administrativas para atendimento às crianças. Em pronta resposta à situação, a Sociedade Brasileira de Pediatria convocou os especialistas de todo o país para ajudarem, tanto presencialmente quanto via telemedicina.
Garantir equidade no tratamento e no enfrentamento dessas doenças que acometem as crianças, de Norte a Sul, é uma tarefa complexa e desafiadora, especialmente em uma nação continental como o Brasil. Por essas características é que, aqui, a telemedicina se sobressai como ferramenta indispensável no cuidado com as tantas vidas que dependem de cuidados intensivos com celeridade.
Um estudo conduzido por pesquisadores de um hospital brasileiro avaliou os resultados obtidos com o uso de telemedicina nas UTIs pediátricas. Por meio de uma revisão sistemática e meta-análise, o trabalho, publicado na revista científica PLOS One, demonstrou uma redução de 34% na taxa de mortalidade nesses locais que tinham a ferramenta de suporte médico remoto. Os autores sugerem que o atendimento de especialistas, ainda que a distância, otimiza e melhora os cuidados a pacientes críticos, reduzindo a incidência de complicações associadas à mortalidade. Sozinho, esse resultado já é excelente. Mas os pesquisadores foram além e avaliaram, também, outro aspecto fundamental em uma hospitalização: a satisfação das equipes de saúde e dos familiares dos pacientes. Nos dois casos, aumentou.
Na vizinha Argentina, especialistas em UTI pediátrica também fizeram um levantamento sobre o uso da telemedicina no cuidado diário e acompanhamento de 29 pacientes internados em uma instituição de Santiago del Estero, distante mais de mil quilômetros de Buenos Aires. Os pesquisadores queriam avaliar se o uso da ferramenta iria auxiliar na redução de transferência de pacientes do interior para a capital. No fim do trabalho, publicado no periódico Pediatric Critical Care Medicine, foram observadas cinco mortes e três transferências. Mais uma vez, um índice de satisfação total de 88,5%.
Números como esses comprovam que a telemedicina é muito mais do que uma ferramenta para consultas médicas a distância. Ela é sinônimo de acesso à saúde igualitário, especializado, ágil e, como vimos, humanizado.
(*) CEO da Dr. Tis, startup especializada em soluções de telemedicina e telerradiologia