Um dos principais hormônios masculinos, a testosterona também está presente nas mulheres. A falta ou o excesso do hormônio causa efeitos diferentes conforme o sexo. Dá mesma forma, a reposição exige cuidados distintos. Para tirar dúvidas sobre o assunto GZH conversou com médicos especialistas no tema.
A baixa dos níveis de testosterona nos homens pode levar a um quadro conhecido clinicamente como hipogonadismo.
— Ocorre perda de massa muscular, rarefação de pelos corporais e da barba, alteração nos níveis de colesterol, fadiga, insônia, perda de libido e disfunção erétil — exemplificou Rogerio Friedman, chefe do Serviço de Endocrinologia e Metabologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
Além do excesso de cigarro, bebidas alcoólicas e outras drogas, descuidos com a alimentação e sedentarismo, existem outros fatores que podem levar à baixa de testosterona nos homens.
— Qualquer forma de estresse físico ou emocional pode alterar a produção de testosterona, levando a um quadro de hipogonadismo — pontua Carlos Teodósio Da Ros, urologista e andrologista do Hospital São Lucas da PUCRS
Nas mulheres, o que a falta ou excesso da testosterona pode ocasionar
No caso das mulheres, não existe um quadro comprovado de deficiência de testosterona porque os exames de sangue atuais não conseguem detectar os limites inferiores da normalidade desse hormônio na população feminina.
— Quando chega uma mulher com pelos aumentados, com a voz grossa, com queda de cabelo, a gente se preocupa que ela possa estar com alguma doença que está causando um aumento da testosterona. E aí a gente pede a dosagem desse exame de sangue — acrescenta Maria Celeste Wender, chefe do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Na população feminina, é preciso se atentar a um quadro de alta do hormônio. Nesse caso, é recomendado uma consulta com endrocrinologista, que poderá determinar a origem do problema.
— Nas mulheres, o excesso de testosterona pode ter como causa uma disfunção ou doença hormonal — esclarece Melissa Barcellos Azevedo, endocrinologista do Hospital Mãe de Deus.
Quando é necessário recorrer à reposição hormonal
A reposição hormonal só pode ser feita mediante prescrição e acompanhamento médico. Além disso, é preciso antes, confirmar o quadro de baixa hormonal do paciente, mediante a realização de exames.
— O diagnóstico é laboratorial, sempre, associado ao quadro clínico. E somente nesta situação, usa-se testosterona em gel transdérmico ou injetável — explica Carlos.
No caso das mulheres, em geral não há indicação médica para reposição de testosterona, a não ser durante a fase pós-menopausa, quando a paciente estiver sofrendo um quadro de disfunção sexual, com perda de libido.
— No entanto, antes da reposição hormonal, a gente descarta qualquer outras causas, porque isso sempre tem que ser revisto, se não é alguma medicação que essa mulher está usando, se não é alguma questão de relacionamento dela com parceiro — pontua Maria Celeste.
A reposição de testosterona nas mulheres, no caso de falta de libido, pode ser realizada junto com a ingestão de outros hormônios femininos e pelo período de seis meses. Também é indicado o acompanhamento psicológico ou com sexólogo.
—Não há indicação para uso de testosterona em mulheres além dessa situação. Além disso, a reposição de testosterona sem a reposição concomitante de estrogênio pode causar danos ao organismo da mulher— afirma a endocrinologista Melissa Barcellos Azevedo, do Hospital Mãe de Deus. Como exemplos dos danos, ela cita queda de cabelo, engrossamento de voz, oleosidade da pele, surgimento de acne e crescimento de clitóris.
O que torna o processo de reposição de testosterona nas mulheres mais delicado é que não existe nenhum produto para a venda que tenha sido regulamentado pelos órgãos regulatórios do Brasil, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e de outros países. O motivo é que eles não foram aprovados nos testes.
Para resolver a questão, são utilizados, em geral, géis aplicados na pele, que são recomendados para a reposição de testosterona em homens, mas em doses bem menores do que a população masculina utiliza, ou são solicitadas manipulações desse produto em farmácias, com a concentração prescrita.
— A única via de administração recomendada (do gel de testosterona) é a transdérmica (aplicação direto na pele), em dose muito baixa quando comparada à reposição transdérmica para homens — acrescenta Melissa.
Suplementos e anabolizantes
A comunidade médica não indica o uso de derivados sintéticos, conhecidos como suplementos ou esteroides anabolizantes, por não haver comprovação científica de sua eficácia.
— Devemos alertar que as redes sociais estão cheias de informações erradas, inadequadas, cujo único objetivo é induzir pessoas a consumirem hormônios e até produtos sem comprovação de segurança. Preocupa muito a falsa indicação de testosterona para melhorar desempenho atlético ou como tratamento estético ou de anti-envelhecimento. Estas indicações são condenadas pelas sociedades médicas — afirma Friedman.
Outro problema das substâncias sintéticas é que elas podem levar a uma alta excessiva do hormônio, desencadeando uma série de problemas de saúde ao paciente.
— Elevados níveis de testosterona podem causar infertilidade definitiva, demência e, em casos mais graves, levar à morte súbita — esclarece Carlos Teodósio Da Ros.
Produção: Filipe Pimentel