O médico Carlos Grossman, de 95 anos, faleceu nesta sexta-feira (9), em Porto Alegre. Grossman foi responsável pela criação de um dos primeiros programas de Residência Médica em Medicina de Família e Comunidade (MFC) do Brasil e sua trajetória no ensino e prática da medicina é reconhecida em todo o país. A causa da morte não foi divulgada pela família.
Nascido em 2 de janeiro de 1928, em Porto Alegre, Carlos Grossman atuava como médico desde os 23 anos. Na década de 1950, recém-formado, viajou para os Estados Unidos para fazer residência, etapa de estudo de medicina que não era comum no Brasil. O Grupo Hospitalar Conceição (GHC) foi a segunda casa de Grossman, onde ele atuou por décadas. Em 1970, o médico foi chamado para ajudar a estruturar a primeira residência em Saúde Comunitária, no Centro de Saúde Escola Murialdo. Em 1979, Grossman já coordenava todas as residências do GHC.
— Eu faço parte do primeiro grupo de médicos de família da unidade de Saúde Comunitária do GHC. E era um sonho. O Grossman era um verdadeiro mestre. Muito bem preparado para atender e ensinar. Lembro de uma vez que ele se propôs a ir comigo resgatar um paciente alcoolista. Ele se sentou na mesa do bar da esquina, comigo e com o paciente, para fazer esse trabalho. Para mim, ele era a medicina — relata a médica da família e comunidade Cristina Padilha Lemos.
A primeira unidade de Medicina Comunitária no GHC, que Cristina fazia parte, foi criada em 1983. Atualmente, são 12 postos de saúde, responsáveis pelo atendimento de mais de 100 mil pessoas. Em nota, o Ministério da Saúde reconheceu o trabalho de Grossman no aprimoramento da profissão.
“Participou da criação de um dos primeiros programas de Residência Médica em Medicina de Família e Comunidade (MFC) do Brasil e contribuiu enormemente para o desenvolvimento da MFC como especialidade médica e para as bases da criação da estratégia Saúde da Família”, diz a publicação.
— É uma grande perda para o serviço e para medicina. Fico arrepiada de falar e lembrar dele. Hoje chorei muito, é como se uma parte da minha identidade estivesse indo embora também. Eu fiquei sete meses no Timor-Leste, da Indonésia, uma experiência que devo à minha formação. E quando falo da minha formação, estou falando dele. Estou agradecendo a ele — lamenta Cristina.
Os colegas lembram que, para Grossman, o médico de família deveria ser a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS). Acessível e atencioso, buscava atender e formar profissionais que tivessem a humanidade como principal característica no exercício da medicina. Para o pedagogo que trabalhava com Grossman desde 1982 no GHC, João Batista Ramos, ele era exemplo de empatia.
— Quando o GHC ainda tinha emergência e sempre tinha fila de atendimento, lembro que ele dizia para dar muita atenção aos pacientes, porque as pessoas não saíam de casa para entrar em uma fila e não ser atendido, que às vezes elas só precisavam de alguém para conversar. Isso nunca saiu da minha cabeça. Ele era assim, pensava no paciente em primeiro lugar — lembra.
Grossman também atuou como diretor técnico do GHC, entre 1993 e 1994. E, em 1997, recebeu o título honorífico de Cidadão Emérito de Porto Alegre. Sua saída do GHC foi em setembro de 2016. O médico deixa a esposa, três filhos, e centenas de amigos e colegas que o acompanhavam e admiravam.
*Produção: Yasmim Girardi