A superlotação das emergências nos hospitais motivará a abertura de mais leitos e alterações nos atendimentos em unidades básicas de saúde de Porto Alegre. As instituições da Capital têm relatado há meses rotina de trabalho acima da capacidade, cenário que tem se mantido com chegada dos dias mais frios.
Nesta terça-feira (16), em entrevista ao Gaúcha+ da Rádio Gaúcha, Favio Telis, diretor de Atenção Hospitalar e Urgências da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), afirmou que ao menos cem leitos serão disponibilizados nos próximos dias com recursos da Operação Inverno.
— Vamos iniciar com esses novos leitos clínicos, tanto pediátrico quanto adulto, provavelmente neste final de semana ou na próxima semana. Já está tudo bem encaminhado. O município disponibilizou recurso próprio de R$ 10 milhões para aumentar o número de leitos — afirmou.
Questionado sobre o que poderia ser feito para melhorar o cenário nas emergências, Telis afirma que é preciso considerar um conjunto de fatores, que vão desde o tempo em que o paciente fica hospitalizado até o tipo de atendimento que é buscado nos hospitais da Capital.
Além disso, ele acrescenta, a prefeitura estuda estender o horário de trabalho nos postos de saúde. O objetivo é reforçar os atendimentos nas unidades básicas para evitar que a população procure as emergências.
— No nosso pronto-atendimento da Bom Jesus, por exemplo, agora à tarde (terça-feira), mais de 60% eram pacientes com classificação verde e azul, que poderiam e deveriam estar sendo atendidos nas nossas unidades básicas de saúde (UBSs). Estamos vendo quando é possível as UBSs atenderem aos finais de semana também, e outras terem atendimento além do horário normal, para absorver esses pacientes — disse.
Telis diz que a ideia é que ao menos uma unidade de saúde próxima aos prontos-atendimentos funcione aos fins de semana. Isso também poderá ocorrer em outras UBSs onde há fluxo maior de pacientes. O início do horário estendido durante a semana ainda está sob avaliação da prefeitura. Uma reunião na manhã desta quarta-feira (17) deverá definir os detalhes da ampliação.
Ouça a entrevista concedida à Rádio Gaúcha:
Situação das emergências
Na atualização das 14h desta terça-feira, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) registrava 138 pacientes na emergência adulta, que tem capacidade para 56. Na emergência pediátrica eram 25 pessoas para uma estrutura que comporta nove. Isso faz com que a instituição atenda apenas casos com risco de morte.
Segundo Jeruza Neyeloff, assessora da diretoria médica do Clínicas, não há apenas uma doença responsável pelo cenário, mas sim vários pacientes com sintomas respiratórios e outros com quadros graves. Na área pediátrica, além da demanda habitual, os profissionais têm atendido crianças com doenças respiratórias típicas do inverno.
— É muito difícil lidar com a alta lotação, porque nós ficamos no limite dos recursos físicos e principalmente no limite dos recursos humanos. Nossas equipes estão se desdobrando. Procuramos garantir atendimento, mas é um desafio lidar com muitos dias acima da lotação máxima esperada — pontuou a médica.
Já a emergência Sistema Único de Saúde (SUS) da Santa Casa de Misericórdia opera com 245% de ocupação. Os que procuram atendimento com sintomas respiratórios não são os que mais preocupam os profissionais, e sim aqueles que demandam atendimentos de alta complexidade. Transplantados também têm sido pacientes frequentes na emergência SUS da instituição.
— Dificilmente conseguimos baixar de 200% de ocupação, nem nos finais de semana. Não identificamos, na emergência SUS, um aumento tão expressivo dos casos respiratórios, mas continuamos atendendo pacientes de alta complexidade. Identificamos pacientes oncológicos cada vez mais críticos, e, no último mês, aumento do número de infartos e de AVCs (acidente vascular cerebral) — afirmou Ana Paula Aerts, coordenadora das emergências da Santa Casa.
A emergência do Hospital Divina Providência informou que atende com cerca de 50% acima do normal para o período.
— São atendimentos de média e alta complexidade, pacientes com sintomas gripais, com sintomas de resfriado, porém também pacientes com sinais e sintomas de AVC, de infarto, inclusive de infecção generalizada também. Estamos organizando o fluxo do atendimento para atender pacientes de forma mais rápida e segura possível. Seguimos com leito disponível em unidade de medicação e terapia intensiva — comentou Felipe Luiz Rengel, coordenador da emergência da instituição.
À reportagem, o Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC) informou que operava com 167% de sua capacidade nesta terça-feira, com 67 internados e 18 pessoas sob observação e cuidados das equipes de assistência. O Hospital Criança Conceição estava com 350% de sua capacidade, com 28 internações e 21 pacientes sob observação e cuidados das equipes de assistência.
"Importante registrar que a emergência do HNSC nunca fecha as portas, mas em situações de excedente, atua prioritariamente no atendimento dos pacientes que chegam com risco de morte. Nesse sentido, pacientes com menor risco podem ser encaminhados para serviços de pronto-atendimento e postos de saúde", disse o hospital por meio de nota.
Já a Unidade de Pronto Atendimento Moacyr Scliar registrava lotação 875% acima da capacidade com 41 pacientes à espera de internação, além de outros 64 pacientes em atendimento por parte dos serviços de assistência e urgência da unidade.