A alergia alimentar pode provocar reações graves, chamadas de anafilaxia, e levar à morte, como ocorreu com o influenciador digital de Natal (RN) que foi a óbito após ingerir um bolinho recheado com camarão. De acordo com a esposa de Brendo Yan da Silva, ambos receberam alimentos de um vizinho, que não sabia que Yan era alérgico nem avisou sobre o recheio de camarão.
Segundo o médico alergista José Luiz de Magalhães Rios, membro do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), a alergia é uma resposta diferente do sistema imunológico a proteínas que não deveriam causar reação.
— Quando a gente come, ingerimos um monte de proteínas estranhas ao nosso corpo. O intestino do ser humano tem um mecanismo próprio que a gente chama de tolerância imunológica, de forma que as proteínas penetram no corpo e, em vez de provocarem uma reação de defesa ou de alergia, provocam reação de tolerância. O corpo se acostuma e usa essas proteínas para se manter. Mas, em alguns indivíduos, esse mecanismo de tolerância não funciona adequadamente — explica.
É na infância que a alergia alimentar se manifesta com maior frequência, já que há uma imaturidade do sistema imunológico. Com o tempo, a maioria das crianças acaba deixando de ter essa repulsa a determinada substância.
No entanto, qualquer pessoa em qualquer idade pode descobrir-se alérgica a alguma iguaria, ainda que a tenha ingerido em outros momentos, sem que isso desencadeasse reações.
— Às vezes, a pessoa come camarão a vida inteira e, num belo dia, se torna alérgica a camarão. O corpo mudou e, em algum momento, houve uma quebra da tolerância e a pessoa passa a reagir — destaca Rios.
Há um grupo de oito alimentos considerados altamente alergênicos. São eles leite, ovos, trigo, soja, castanha, amendoim, peixes e frutos do mar. Um novo elemento também vem sendo verificado entre profissionais da saúde como causador de numerosas alergias: o gergelim, cujo consumo vem aumentando no mundo.
Embora haja uma predisposição genética, fatores externos, como mudanças no estilo de vida e de alimentação, têm contribuído para elevar o número de pessoas com alergias.
— Os alimentos processados, com muito aditivo, além dos adubos químicos, trazem uma carga de química muito grande, deixando o intestino inflamado e, por consequência, absorvendo de forma diferente algumas proteínas. E essas proteínas, entrando de forma diferente no organismo, não passam pelo mecanismo de tolerância, e aí o corpo faz a reação alérgica — detalha o médico.
A alergia alimentar pode desencadear manifestações cutâneas, como urticária, que são placas avermelhadas que causam coceira, além de edema, que é o inchaço de lábios ou olhos. Também podem ocorrer cólicas, vômitos e problemas respiratórios, como nariz entupido e escorrendo, tosse e falta de ar.
Em casos mais graves, há reação anafilática, que é a queda da pressão a zero, impedindo o sangue de chegar até os órgãos, o que leva à morte. O edema de glote, que é o inchaço da garganta, também pode ser fatal, já que causa asfixia.
Tomar antialérgico pode ajudar em casos leves, como manifestações cutâneas, mas não impede uma reação anafilática, alerta Rios.
— Antialérgico não tem potência contra esse tipo de reação, não faz nem cosquinha contra uma reação grave. A única coisa que reverte a reação anafilática é a injeção de adrenalina — diz.
Apesar do alerta, a única forma de evitar completamente a alergia alimentar é nunca ingerir o alimento. Pacientes previamente diagnosticados podem fazer uso de adrenalina injetável, sob prescrição médica. Há fatores que favorecem as reações graves: fazer atividade logo após comer o alimento que causa alergia, ingerir bebida alcoólica e estar usando anti-inflamatório.
Importante diferenciar alergia alimentar de intoxicação alimentar, que é decorrente de um alimento estragado, fora de sua condição adequada.