Uma das preocupações do início da pandemia, há quase três anos, era saber se os animais podiam se infectar e transmitir covid-19. Com o avanço dos estudos, foi comprovado que os pets e outros animais, como tigres e furões, podem ser infectados pelos humanos. Não há, porém, comprovação de que o contrário possa acontecer. Ainda assim, as chances de animais pegarem covid-19 são baixas e os casos não costumam ser graves.
Em abril de 2020, alguns animais do zoológico do Bronx, em Nova York, nos Estados Unidos, testaram positivo para covid-19. O caso chamou atenção para a relação entre covid e animais, que ainda era desconhecida. As pesquisas na área já mostraram que, apesar de ser incomum, o risco de animais serem infectados pelo vírus não é inexistente.
— O vírus é muito menos transmissível para os animais do que para os humanos. Existem artigos, pesquisas e relatos da infecção de animais, principalmente de cães e gatos, mas são eventos bem raros. E são mais raros ainda os casos nos quais os animais vieram a óbito por causa da doença — explica o coordenador da faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Feevale, Matheus Weber.
Segundo a médica veterinária e professora das disciplinas de Terapêutica Veterinária e Clínica de Pequenos Animais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Anne Santos do Amaral, a transmissão acontece por contato próximo e persistente do animalzinho com o tutor infectado pelo vírus. Portanto, o recomendado é que, no período de isolamento social após testar positivo para a doença, os humanos evitem dormir na mesma cama, beijar e ficar muito próximo do pet. Ela sugere, também, que a casa se mantenha bem ventilada e que os tutores lavem as mãos antes e depois de ter contato com os bichinhos.
— Um pequeno número de animais apresenta sinais como secreção nasal serosa, espirros e, eventualmente, diarreia, com poucos casos relatados de infecções mais sérias, que levassem a qualquer tipo de comprometimento. Podemos afirmar que os sinais em animais, quando existentes, são bastante discretos e transitórios, com apenas alguns dias de evolução — afirma a professora.
Weber ressalta, porém, que esses sintomas são típicos de outras infecções ou doenças comuns em animais. Ou seja, um pet que apresente todos esses sinais não necessariamente está com covid-19.
Animais de estimação transmitem covid-19?
Outro caso de 2020 também causou preocupação. Em abril, foi registrado na Holanda o primeiro caso de um vison, animal parecido com um furão, criado pela sua pele, infectado pelo novo coronavírus SARS-CoV-2 e um caso de recontágio de um trabalhador agrícola, de acordo com o Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC). Outros países da Europa registraram casos parecidos nos meses seguintes e a ECDC definiu que era possível que os humanos transmitissem a doença para os visons e vice-versa.
— Muitos visons morreram por causa da doença, outros foram sacrificados. Mas são animais diferentes. Talvez eles sejam mais suscetíveis. Não é o caso de outros animais, como cães e gatos, que nunca ficou comprovado se eles podem ou não transmitir para humanos — relata Weber.
Vacina contra coronavírus
Quem tem um cachorrinho já deve ter reparado que, na carteirinha de vacinação, consta uma vacina contra o coronavírus. Os especialistas alertam que esse imunizante, presente no protocolo vacinal canino há muito tempo, não é o mesmo que os humanos receberam e, muito menos, protege contra o coronavírus que conhecemos, já que são de famílias diferentes.
— Nos cães, a principal coronovirose pode produzir diarreia e tende a ser uma doença mais preocupante em filhotes, especialmente quando existe coinfecção com o parvovírus, causador de uma diarreia hemorrágica que pode ser bastante severa. A diarreia produzida pelo coronavírus do cão é, em geral, autolimitante, e em alguns poucos casos ser acompanhada por vômitos — explica Anne.
A vacina contra o coronavírus faz parte da composição da maioria das vacinas polivalentes disponíveis no mercado.
Por outro lado, não há vacina disponível para o coronavírus felino. Nos gatos, o coronavírus também está relacionado a sinais digestórios, podendo causar diarreia e vômito em filhotes.
— O vírus pode ser mais frequente em casas onde muitos gatos convivam no mesmo espaço, e nas quais a limpeza das caixas de areia não seja adequada. Esse coronavírus pode sofrer uma mutação e se transformar no causador de uma outra doença, a peritonite infecciosa felina, conhecida como PIF, que não tem tratamento e é bastante grave — acrescenta.
Orientações
Os especialistas defendem que é importante que os tutores estejam atentos aos sinais dos bichinhos e que respeitem as medidas básicas para evitar que tanto humanos quanto animais sejam infectados pelo vírus.
— Observe. Se os sinais se mantiverem presentes por mais de três dias, entre em contato com o veterinário de seu animal para uma avaliação e tratamento, se necessário — aconselha a professora da UFSM.
Ela pede, ainda, que os donos não se preocupem demais com a relação entre covid e animais de estimação porque os riscos de infecção e transmissão são baixos.