Sabe-se que temperaturas baixas e resfriados costumam andar de mãos dadas. Mas até agora era desconhecido a forma que o frio na cavidade nasal afetava a resposta imunitária. Um novo estudo publicado nesta terça-feira (6) no The Journal of Allergy and Clinical Immunology, revista científica americana especializada em alergias e imunologia, detalha uma nova forma pela qual o organismo humano ataca os intrusos. E revela que ele funciona melhor quando está quente.
Essas descobertas podem levar ao desenvolvimento de novos tratamentos para o resfriado comum e outros vírus, explicou à AFP Mansoor Amiji, professor da Northeastern University (Boston), que codirigiu a pesquisa.
O ponto de partida é um estudo anterior de 2018, que descobriu que as células do nariz liberam vesículas extracelulares (VE), uma nuvem de partículas minúsculas que ataca as bactérias ao inalá-las.
— A melhor analogia é a do ninho de vespas — explica Amiji.
Assim como as vespas defendem seus ninhos quando atacadas, as VE voam em grupo para matar os invasores.
Para a nova pesquisa, a equipe se propôs a responder a duas perguntas: as VE também são secretadas na presença de vírus? E, se forem, sua resposta está ligada à temperatura? Para responder à primeira pergunta, os cientistas utilizaram a mucosa nasal de voluntários — que estavam sendo operados para extrair pólipos — e uma substância que replicava uma infecção viral. Eles descobriram que, de fato, eram produzidas VE que se dirigiam ao vírus.
Para abordar a segunda questão, os cientistas dividiram as amostras de células nasais em dois grupos e as cultivaram em um laboratório, submetendo um conjunto de amostras a 37ºC e o outro a 32ºC. Essas temperaturas foram escolhidas com base em um teste separado que constatou que a temperatura dentro do nariz cai cerca de 5°C quando o ar externo baixa de 23°C para 4°C.
Em condições normais de temperatura corporal, as vesículas extracelulares foram capazes de combater os vírus, oferecendo-lhes "iscas" para se agarrar no lugar dos receptores celulares que normalmente teriam como alvo. Mas em temperaturas mais baixas, a produção de VE foi menor e elas se mostraram menos eficazes contra os vírus testados: dois rinovírus e um coronavírus (não o da covid-19), comuns durante o inverno.
— Nunca houve uma razão convincente de por que esse aumento tão claro na infecciosidade viral ocorre durante os meses frios — disse o coautor do estudo, Benjamin Bleier, cirurgião da Escola de Medicina de Harvard.
— Esta é a primeira explicação quantitativa e biologicamente plausível que foi desenvolvida — acrescentou.
Segundo Amiji, este estudo poderia conduzir ao desenvolvimento de tratamento para estimular a produção natural de VE, de modo a combater melhor os resfriados, ou até mesmo a gripe e a covid-19.
—Esta é uma área de pesquisa que nos interessa imensamente e sem dúvidas continuaremos por este caminho — afirmou.
* AFP