A atriz Ludmila Dayer lançou, no último sábado (3), o documentário Eu, sobre sua trajetória lidando com os desafios da ansiedade e da esclerose múltipla. Na ocasião, a cantora Anitta, que participa da obra, revelou ter sido diagnosticada com Epstein-Barr (EBV, na sigla em inglês) há dois meses. Estudos indicam que EBV pode ser um dos fatores para o desenvolvimento da esclerose múltipla, mas especialista afirma que conexão não é tão simples.
A esclerose múltipla é uma doença autoimune que compromete o sistema nervoso central, podendo causar sintomas como cansaço, alterações na visão, desequilíbrio, dores e, até mesmo, dificuldades para falar ou engolir. Segundo o Ministério da Saúde, a doença atinge, majoritariamente, pessoas entre 18 e 50 anos.
A origem da doença ainda é desconhecida pela medicina. Segundo o neurologista do Centro de Doenças Autoimunes do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Douglas Kazutoshi Sato, a causa está associada a um somatório de diferentes fatores. E o EBV pode ser um deles.
— Estudos recentes acreditam que o EBV é um fator de risco para a esclerose múltipla, mas não o único. A minoria absoluta de pessoas infectadas com o EBV desenvolve esclerose múltipla, têm vários outros fatores, como exposição a luz solar, falta de vitamina D, tabagismo e obesidade infantil, por exemplo — pontua. Ele afirma, porém, que é raro um caso de esclerose múltipla em um paciente que não tenha EBV. Ludmila também tem o vírus.
O Epstein-Barr, ou EBV, é responsável por causar a mononucleose infecciosa, conhecida como doença do beijo. O vírus é transmitido por contato e o beijo é a forma mais comum de ser infectado, afirma Sato. Ele explica que muitas pessoas têm o vírus porque, depois de infectadas, a maioria das pessoas não conseguem eliminá-lo completamente do corpo.
— Ele fica escondido nas células — conta.
Sato defende que, apesar de existir conexão entre o vírus e a esclerose múltipla, as pessoas que já tiveram mononucleose não precisam entrar em pânico:
— Eu uso com meus pacientes a metáfora do copo. Vamos imaginar que temos um copo vazio, e cada um desses fatores vai enchendo o copo. Se transbordar, a pessoa desenvolve esclerose. O EBV sozinho não é o suficiente para desenvolver a doença.
O médico, que também é professor da Escola de Medicina da PUCRS, explica que essa relação acontece por causa do mimetismo molecular.
— Algumas proteínas do vírus se parecem com algumas proteínas do nosso corpo e, por essa semelhança, o sistema imunológico, na hora de combater o EBV, se confunde. É neste momento que algumas pessoas acabam desenvolvendo inflamações no cérebro e medula, observadas na esclerose múltipla.
Prevenção e tratamento
As medidas para prevenir o EBV são parecidas com as recomendações para não pegar uma gripe: evitar compartilhar objetos de uso pessoal. Por outro lado, a prevenção da esclerose múltipla é um pouco mais complexa.
— Tomar sol com moderação, evitar cigarro, e ter uma alimentação saudável e balanceada, principalmente para evitar a obesidade infantil — sugere Sato.
O tratamento das duas também é bem diferente. A mononucleose, em algumas pessoas, aparece com sintomas virais e deve ser tratada desta forma, podendo ser curada em poucos dias. Já a esclerose múltipla não tem cura, mas tem uma série de tratamentos que podem ajudar a diminuir as inflamações, as dores e os outros efeitos da doença que diminuem a qualidade de vida do paciente.
*Produção: Yasmim Girardi