A China registrou suas primeiras mortes nesta segunda-feira (19) desde que flexibilizou as rígidas medidas no âmbito de sua política de "covid zero", enquanto hospitais e crematórios de Pequim vão ficando sobrecarregados por uma onda de casos sem precedentes.
O gigante asiático deu uma guinada radical no início de dezembro e suspendeu a maior parte das restrições sanitárias. Elas estavam em vigor há quase três anos, desde quando os primeiros casos de coronavírus foram detectados na cidade de Wuhan (centro).
Após o levantamento das restrições, a epidemia de covid-19 explodiu na China. Mas seu alcance é "impossível" de determinar, admitem as autoridades, agora que os testes de rastreamento não são mais obrigatórios. Especialistas temem que o país esteja mal preparado para a onda de infecções ligadas a essa reabertura, enquanto milhões de idosos e vulneráveis ainda não foram vacinados.
Nesta segunda-feira, as autoridades relataram a morte de dois pacientes em Pequim, os únicos até agora desde que as restrições foram suspensas em 7 de dezembro, segundo dados oficiais. Desde então, a capital e seus 22 milhões de habitantes foram particularmente afetados por uma onda de contágio sem precedentes desde o início da pandemia e que se alastrou rapidamente nos últimos dias.
As mortes em hospitais estão aumentando, crematórios ficam cada vez mais sobrecarregados, e faltam remédios para gripe nas farmácias.
— Os números (oficiais) não contam toda história — observou Leong Hoe Nam, especialista em doenças infecciosas de Singapura, que disse esperar um número muito maior.
Para ele, alguns hospitais estão lotados e não podem receber novos pacientes, enquanto a importância da covid-19 pode ter sido minimizada pelos profissionais de saúde. Como resultado, se alguém morrer "de um ataque cardíaco após o estresse de uma infecção" de covid, "então, o ataque cardíaco será a principal causa (retida) da morte, mesmo que a covid seja a causa subjacente", explicou Leong à AFP.
"Três ondas"
Desde o levantamento das restrições, as autoridades têm procurado tranquilizar a população. Contrariando o discurso oficial desde o início da pandemia e apesar do alto nível de contágio do vírus, agora afirmam que ele é benigno. O município-província de Chongqing (sudoeste) e a província de Zhejiang, que faz fronteira com Xangai, decidiram que as pessoas com sintomas leves podem "continuar trabalhando", desde que tomem "medidas de proteção".
Um dos principais epidemiologistas do país, Wu Zunyou, alertou que a China enfrenta "a primeira de três ondas" de covid-19 esperadas para este inverno (verão no Brasil). Espera-se que a onda atual dure até meados de janeiro, afetando principalmente as cidades, antes que as viagens relacionadas ao feriado do Ano Novo Lunar (22 de janeiro) desencadeiem uma segunda onda em fevereiro.
O terceiro pico ocorrerá entre o final de fevereiro e meados de março, quando as pessoas infectadas durante as férias retornarem para seus locais de trabalho, disse Wu ao jornal econômico Caijing.
* AFP