A Secretaria Estadual da Saúde (SES) já trabalha para lidar com um cenário de aumento de casos e transmissão comunitária da varíola dos macacos (monkeypox) no Rio Grande do Sul. Nenhum dos 12 registros confirmados no Estado até o momento teve transmissão entre moradores, conforme a pasta. No entanto, devido à evolução da doença no país, a expectativa é que isso ocorra logo, diz Cynthia Goulart Molina-Bastos, diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS) da SES.
— Existe transmissão comunitária da doença em São Paulo, então chegar aqui (no RS) é questão de tempo, porque as pessoas estão viajando. Temos um grupo já trabalhando para dar uma resposta a isso, lá na frente, pois temos de estar preparados para um cenário pior — explica.
De acordo com a diretora do CEVS, na quarta-feira (3), uma reunião da secretaria acertou como tratará a doença. A SES destacou um grupo para trabalhar de forma exclusiva com as demandas da varíola dos macacos. Também foi confirmado que o Estado tem capacidade de fazer testes em uma situação de "explosão" de casos nas próximas semanas. Esses exames são conduzidos no Laboratório Central de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Sul (Lacen-RS).
O número de casos confirmados no Estado é considerado pequeno pela SES, o que facilita no monitoramento dos pacientes. Essa característica faz com que os profissionais saibam quem são as pessoas infectadas, onde elas moram, com quem tiveram contato e se o protocolo de isolamento foi seguido, em uma situação similar ao tratamento da covid-19 quando dos primeiros casos.
Os 12 registros no Estado ocorreram em Porto Alegre (5), Caxias do Sul (2), Canoas (1), Garibaldi,(1), Igrejinha (1), Uruguaiana (1) e Viamão (1). Os pacientes são sete homens e cinco mulheres, que se infectaram a partir do contato com indivíduos de fora do Estado, segundo a secretaria. Conforme Cynthia, a dificuldade será quando os casos se multiplicarem devido à transmissão interna, situação na qual será impossível detectar a origem do contágio.
— Como o vírus é rápido, não conseguimos mapear caso a caso. Então não saberemos se a pessoa ficou em quarentena ou não. (Com o aumento de registros) a conduta muda porque o que era um crescimento de um para 10, pode passar para 5 mil, 10 mil (casos)— exemplifica a diretora do CEVS.
A doença é tratada como surto no Brasil pelo Ministério da Saúde (MS) desde o fim de julho. No mesmo mês, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a tratar a monkeypox como emergência global. O país ultrapassou os 1,6 mil casos da doença, e uma morte, ocorrida em Minas Gerais. No mundo são cerca de 25 mil registros, conforme o site Our World in Data.
A diretora do CEVS diz que hoje não há conversas quanto à estrutura hospitalar para uma eventual necessidade de internações de pacientes infectados com a doença, porque o foco dos profissionais, atualmente, é evitar infecções, em especial da população que já tem doenças graves.
— A transmissão dela (a varíola dos macacos) não parece que vai originar uma pandemia igual à da covid-19, mas já é uma emergência internacional. Hoje temos capacidade de resposta que dá conta de atender um início de transmissão comunitária — pontua.
Ouça o podcast "Descomplica, Kelly" sobre a varíola dos macacos
O infectologista André Luiz Machado, do Grupo Hospitalar Conceição, participa do episódio.