Um estudo publicado na quarta-feira (20), na revista Molecular Psychiatry, aponta que não há evidências científicas para afirmar que a depressão está diretamente relacionada com os baixos níveis de serotonina. A pesquisa levanta o debate sobre o uso de antidepressivos, uma vez que a maioria desse tipo de medicamento se concentra nessa molécula de sinalização cerebral.
O estudo teve como metodologia uma revisão sistemática, analisando 17 outros artigos científicos já publicados sobre o tema. A conclusão foi de que as principais áreas de pesquisa do assunto não fornecem evidências consistentes sobre haver uma associação entre serotonina e depressão, além de não ter elementos que sustentem a hipótese de que a depressão é causada pelas baixas concentrações do neurotransmissor. As informações são do jornal Folha de São Paulo.
Os autores observaram que não foi encontrada diferença nos níveis de serotonina entre pessoas diagnosticadas com depressão e participantes considerados saudáveis. Da mesma forma, a utilização de métodos para reduzir a serotonina em pacientes não resultou em um quadro depressivo, de acordo com os estudos.
Popularmente conhecido como hormônio do humor ou do bem-estar, a serotonina é um neurotransmissor que atua no sistema nervoso central, estabelecendo a comunicação entre as células nervosas, além de diversas outras áreas do corpo, podendo também ser encontrada no intestino e nas plaquetas de sangue. Ela atua regulando humor, apetite, sensibilidade, entre outros fatores corporais.
A ideia de que a depressão é o resultado de anormalidades nas substâncias químicas do cérebro, particularmente a serotonina, tem sido influente há décadas na área. Conforme o estudo, a ligação entre a serotonina e a depressão foi sugerida pela primeira vez na década de 1960 e amplamente divulgada a partir de 1990, com a chegada dos antidepressivos inibidores seletivos da recaptação de serotonina.
Embora o estudo não tenha se atentado à eficácia dos antidepressivos, os pesquisadores sugerem que sejam feitos mais estudos sobre tratamentos que atuem no gerenciamento de eventos estressantes ou traumáticos na vida das pessoas, como psicoterapia, juntamente com outras práticas, como exercícios ou atenção plena, ou abordar contribuintes subjacentes à doença, como pobreza, estresse e solidão.