Uma nova sublinhagem da variante Ômicron vem chamando a atenção em países da Ásia e da Europa: a chamada BA.2.75, que foi detectada pela primeira vez na Índia, em maio deste ano. Atualmente, ela consta na lista de subvariantes da Ômicron sob monitoramento da Organização Mundial da Saúde (OMS) e já foi encontrada em mais de 10 nações. De acordo com o Ministério da Saúde, até a tarde desta terça-feira (19), não foram notificados casos dessa sublinhagem no Brasil.
Fernando Spilki, professor de Virologia da Universidade Feevale, explica que a BA.2.75 é uma sublinhagem da variante BA.2 — que, por sua vez, é uma das primeiras linhagens da Ômicron. Segundo o especialista, ela se disseminou inicialmente em regiões que já tinham circulação de outras sublinhagens da mesma variante, o que indica que pode ser “bastante transmissível”.
Apesar desse indício, Spilki destaca que ainda é preciso analisar como será seu comportamento diante das outras sublinhagens:
— Honestamente, acho cedo para imaginar que ela se torne uma variante de preocupação. Teremos de ver muito bem qual será sua disseminação perante BA.4 e BA.5, já que particularmente esta última tem grandes chances de avançar no sentido de substituir a BA.2 e outras variantes.
Chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Eduardo Sprinz acrescenta, entretanto, que ainda não há evidências sobre um possível impacto da BA.2.75 no aumento da transmissibilidade ou da gravidade dos sintomas das pessoas contaminadas. Comenta que também não se sabe exatamente se quem foi infectado pela BA.2 tem ou não alguma defesa contra essa nova sublinhagem.
— Sabemos que ter uma infecção por uma variante não protege contra outra variante ou outra subvariante, isso explica por que as pessoas estão tendo reinfecções tão frequentes. Quem teve BA.1 pode ter BA.2 e, inclusive, BA.2.75 — afirma Sprinz.
Países afetados e eficácia das vacinas
De acordo com Fernando Spilki, a BA.2.75 já foi encontrada na Índia, Reino Unido, Estados Unidos, Nova Zelândia, Canadá, Indonésia, Nepal, Japão, Alemanha, Martinica, Austrália, Holanda, Dinamarca e Turquia. Na maioria desses países, afirma, as maiores taxas de contaminação são decorrentes da subvariante BA.5, que vem provocando aumento no número de casos.
— Então, por enquanto, também é difícil avaliar os efeitos da BA.2.75 nos números — diz o professor, ressaltando que ainda não há dados sobre a relação desta nova sublinhagem com as vacinas.
O foco neste momento, segundo Spilki, está voltado à subvariante BA.5, que está se disseminando muito e caminhando para se tornar dominante na maioria dos países:
— Com a BA.5 sabemos que há proteção clínica, mas pouca redução na transmissão, conforme a gente já vem observando há algum tempo com as várias variantes de preocupação (VOCs).
O infectologista Eduardo Sprinz enfatiza, contudo, que mesmo que haja um escape imunológico (quando as vacinas existentes podem perder parcialmente a eficácia), os imunizantes não deixam de cumprir seu principal objetivo, que é impedir ou reduzir as chances da covid-19 se manifestar de forma mais grave nos infectados, fazendo com que não necessitem de hospitalização ou morram.
— Sempre soubemos que as variantes conseguiam driblar o sistema imunológico e com a família Ômicron isso se dá em maior intensidade. Mas, mesmo assim, isso faz com que a doença não seja grave em pessoas vacinadas e com esquema vacinal completo — finaliza o infectologista do HCPA.