Uma instabilidade no sistema oficial para o registro dos casos e óbitos por síndrome respiratória aguda grave (SRAG), o Sivep-Gripe, do Ministério da Saúde, impede que a Secretaria Estadual da Saúde (SES) atualize os dados de covid-19 no Rio Grande do Sul. O sistema ficou totalmente fora do ar entre a quinta-feira (2) passada e a manhã desta segunda-feira (6) — conforme o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (COSEMS/RS), a situação tratava-se de manutenção corretiva de caráter emergencial, informada pelo Datasus.
No período da tarde desta segunda-feira, momento previsto para a normalização, o sistema permanecia instável, impedindo o acesso. Na noite desta segunda, em nota, o Ministério da Saúde informou que "os sistemas já foram restabelecidos e os dados enviados pelos sistemas de informação dos Estados e municípios já estão em processo de atualização".
Segundo a chefe do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Tani Ranieri, outros Estados também enfrentaram a mesma dificuldade. Por conta deste impedimento em acessar o sistema, a SES não conseguia, até a tarde desta segunda, atualizar as informações de casos e óbitos por covid-19 no RS que são lançadas pelos hospitais e municípios gaúchos.
— Até agora (17h40min desta segunda-feira), o sistema está instável. Inclusive, ele ficou fora do ar desde a semana passada e durante o final de semana. Era para voltar a partir das 6h da manhã desta segunda-feira, mas segue com problemas. O fato de não termos estes dados compromete numa análise mais atual do momento em que estamos (com relação à covid-19) — explica Tani.
Como esse sistema é a forma oficial de notificação, não havia, até então, como gerar os dados sobre covid-19 sem o acesso ao banco de dados do governo federal. A chefe do Cevs destaca também que todo os sistemas relacionados ao Datasus estariam apresentando problemas.
— O sistema de notificação das campanhas e das vacinas de rotina também está com o mesmo problema. Então, fica difícil qualquer tipo de avaliação, uma vez que a nossa avaliação é utilizando os bancos de dados oficiais de notificação de casos ou de doses de vacinas aplicadas — completa Tani.
Nesta segunda, mais uma vez, a SES divulgou em suas redes sociais informações incompletas sobre a situação da covid-19 no Estado e destacou que, por uma manutenção no sistema do Ministério da Saúde, não foram notificados novos óbitos mais uma vez.
Em janeiro deste ano, uma situação parecida ocorreu quando ficou fora do ar por dois dias o sistema e-SUS Notifica, usado pelos Estados para inserirem as informações sobre novos casos e mortes por covid-19.
Datasus informou problema aos municípios
O presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (COSEMS/RS), Guilherme Ribas, que é secretário da saúde de Santa Maria, confirma que houve um comunicado do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus) informando que o sistema ficaria em manutenção corretiva de caráter emergencial no Datacenter, de quinta (2) até a manhã segunda-feira (6).
— Entretanto, a instabilidade está fazendo acumular informações essenciais para o acompanhamento real da pandemia, para a tomada de decisões do enfrentamento da covid-19, e também acumula mais trabalho para as equipes que já possuem uma grande demanda de trabalho nos municípios de todo o Rio Grande do Sul. O Cosems/RS tem preocupação e espera que o sistema retorne o mais rápido possível — diz Ribas.
Problemas com dados são ainda maiores
Para o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise covid-19, a instabilidade no sistema é uma das dificuldades atuais de vigilância em saúde e pontua as demais.
— É mais uma camada nas dificuldades de vigilância em saúde que estamos tendo nessa última onda! Ainda temos as seguintes questões: o autoteste não é notificado, logo, todos os testes que forem feitos dessa maneira ajudam a pessoa a identificar a doença, mas não ajudam a vigilância a entender o que está havendo. Com as vacinas, cada vez mais as pessoas têm sintomas leves, e isso pode estar fazendo com que não tenham mais interesse em testar e, além disso, os poucos que testam, não estão conseguindo notificar por conta da instabilidade no sistema — esclarece o coordenador.
Isaac ainda relata que, quando se analisa o Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL), que concentra os dados de testes feitos nos laboratórios centrais (LACENs) do Sistema Único de Saúde (SUS), nota-se que o número de testes também caiu consideravelmente nos meses de abril e maio deste ano.
Para se ter uma ideia, segundo os dados destacados por Isaac, em janeiro deste ano foram realizados 1.706.349 testes no Brasil. Em fevereiro, foram 929.747. Em março, 264.344. Em abril, 182.793. No mês passado, somente 176.375 testes feitos em pacientes suspeitos com covid-19.