Quase quatro meses após o tão aguardado início da vacinação infantil contra a covid-19 no Brasil, a possibilidade de ampliação da faixa etária apta a receber as doses que protegem contra complicações e morte em decorrência da doença permanece uma incógnita. Há potencial para desfecho positivo ou negativo a qualquer momento, em meio a perspectivas a médio e longo prazo.
O caminho mais curto para imunizar menores de cinco anos no país é a eventual aprovação da CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan, de São Paulo (SP), a partir de parceria com a chinesa Sinovac. O pedido de autorização referente a crianças de três a cinco anos foi submetido à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março e segue em análise pelos técnicos da autarquia. Mais dados têm sido solicitados, a intervalos, ao Butantan, num fluxo de informações considerado normal em tramitações desse tipo.
A Anvisa também já ouviu especialistas externos, de diferentes sociedades médicas, a respeito do tema. Após a reunião, considerando também os estudos enviados pelo fabricante, a agência informou, em abril, que “os dados apresentados são insuficientes para a conclusão sobre o uso da vacina para crianças de três a cinco anos”. Questionada pela reportagem de GZH nesta quarta-feira (4) sobre a perspectiva de conclusão do processo, a Anvisa, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que “não é possível antecipar prazos”.
O Butantan segue na expectativa de uma definição, atendendo às solicitações. Junto à imprensa, o instituto vem divulgando intensamente resultados positivos de pesquisas envolvendo o imunizante. “Um recente estudo chileno de mundo real com 500 mil crianças de três a cinco anos que tomaram CoronaVac mostrou uma efetividade de 69% contra internação em UTI e 64,6% contra hospitalização pela covid-19, mesmo durante o surto de Ômicron no Chile”, diz postagem no site do Butantan, que disponibiliza ao público o acesso ao Dossiê CoronaVac.
Outra frente de otimismo se abre com a iniciativa da farmacêutica norte-americana Moderna, que planeja pleitear, em breve, a entrada de seu imunizante contra a covid-19 no sistema de saúde brasileiro. A Zodiac, empresa do Grupo Adium, de São Paulo, será responsável pelo pedido de regulação, distribuição e comercialização do produto no país. A previsão é de que o pedido para uso da vacina em bebês a partir de seis meses e demais grupos etários subsequentes seja remetido à Anvisa ainda neste semestre. Conforme a assessoria de imprensa da Zodiac, espera-se que a etapa burocrática seja vencida até o final do ano.
GZH perguntou ao Ministério da Saúde se há esforços em andamento para viabilizar a imunização de crianças menores de cinco anos contra a covid-19. A pasta se limitou a responder que “recomenda a vacinação para crianças maiores de cinco anos”, destacando em negrito a palavra “maiores”. Uma assessora do ministério, por telefone, complementou que a pasta depende das decisões da Anvisa, por onde entram e são escrutinados os estudos de vacinas. No caso da CoronaVac para a parcela de três a cinco anos, o papel do ministério só começaria a ser desempenhado partir da aprovação da vacina.
No mundo
A agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos (FDA), referência mundial na área, planeja retomar discussões em junho, com os laboratórios Pfizer e Moderna, sobre a vacinação contra a covid-19 de crianças até quatro anos. A aprovação pode sair também no mês que vem.
O produto da Pfizer esteve perto de receber autorização em fevereiro, mas o órgão solicitou mais dados à farmacêutica. Se a tramitação for bem-sucedida desta vez, é possível que as doses sejam liberadas para aplicação até mesmo poucos dias depois de finalizado o debate.
Outros países devem tomar decisões semelhantes a partir das deliberações das autoridades sanitárias norte-americanas. A Pfizer Brasil, entretanto, informou que “ainda não há previsão de data da submissão do pedido junto à Anvisa para aprovação do uso da vacina para a faixa etária de menores de cinco anos”.
A CoronaVac é aplicada em crianças a partir dos três anos em sete países, de acordo com o Instituto Butantan: China, Chile, Colômbia, Tailândia, Camboja, Equador e o território de Hong Kong. Em junho de 2021, a China foi a primeira nação a aprovar a vacina contra a covid-19 a partir dos três anos.