Integrantes do principal grupo de risco da dengue, os idosos representam cerca de 71% dos pacientes que morreram devido à doença no Rio Grande do Sul em 2022. Em menos de seis meses, o Estado já soma 38 óbitos e 29.685 casos confirmados, os maiores números registrados em seu território em um único ano. Destas mortes, 27 foram entre pessoas com mais de 70 anos, conforme dados do painel da Secretaria Estadual da Saúde (SES), atualizados na última quarta-feira (25)*.
O detalhamento da plataforma aponta que 13 mortos tinham entre 70 e 79 anos, enquanto 14 integravam a faixa etária de 80 anos ou mais. Esses dois grupos tiveram 2.348 casos confirmados, não sendo aqueles com maior número de infectados — que diz respeito às pessoas de 20 a 39 anos, que somam mais de 9,7 mil confirmações da doença, mas um número bem menor de óbitos: três (todos entre 30 e 39 anos).
Na faixa de 40 a 49 anos também há três mortes, enquanto de 50 a 59 há duas e, entre 60 e 69, mais duas. Abaixo dessas faixas etárias, há apenas uma vítima, que tinha entre 10 e 14 anos.
Além das idades, o painel da SES disponibiliza informações sobre o sexo das vítimas: foram 21 mulheres (55,3%) e 17 homens (44,7%). Entre os casos confirmados, 15.833 (53,34%) eram do sexo feminino e 13.826 (46,58), do masculino. Outras 26 pessoas tiveram esse dado ignorado, conforme a legenda da plataforma.
Risco maior entre idosos e pessoas que já tiveram a doença
De acordo com especialistas, é esperado que um maior índice de mortalidade por dengue seja observado entre pessoas mais velhas, como vem ocorrendo no Rio Grande do Sul. Em Igrejinha, que é o município gaúcho com mais óbitos neste ano, cinco das seis pessoas que morreram devido à doença tinham entre 79 e 97 anos.
Médica infectologista da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e diretora de comunicação da Sociedade Gaúcha de Infectologia, Rafaela Mafaciolli explica que a doença pode ser mais perigosa para os idosos, porque eles apresentam um envelhecimento imunológico que, na dengue hemorrágica, costuma fazer com que evoluam de uma forma pior. Além deles, pessoas que já tiveram a doença têm maior chance de evoluir para o quadro hemorrágico (o mais grave) na segunda contaminação.
— O sistema imunológico da pessoa que já teve a doença acaba tendo uma reação inflamatória muito forte e excessiva, que faz alterações na coagulação e pode resultar na dengue hemorrágica. Isso não quer dizer que na primeira contaminação não possa evoluir para dengue hemorrágica, porque pode, mas é mais comum em que já teve a doença uma vez — afirma a especialista.
Essa resposta exacerbada do organismo, que pode acarretar em manifestações clínicas mais graves da dengue, está associada não apenas à exposição prévia ao vírus e à idade avançada, mas também à presença de comorbidades, que contribuem para o aumento do risco de morte, acrescenta o infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Feevale Ronaldo Campos Hallal.
Como exemplo de comorbidades de relevância para pessoas com dengue, o professor cita diabetes e doenças cardiovasculares. Já Rafaela comenta que pacientes com câncer, que já têm o sistema imunológico mais debilitado, ou com outra doença que afete a imunidade, também são mais suscetíveis a formas graves da enfermidade transmitida pelo mosquito Aedes aegypti.
— Existem alguns sinais de alerta que indicam esse maior risco de manifestações graves em pessoas que estão com dengue, como hipotensão, extremidades frias, diminuição do volume de urina ou hipotermia — informa Hallal, alertando que, quanto maior for o número de pessoas infectadas, maior será a probabilidade de evolução fatal inclusive entre jovens sem comorbidades.
*A assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Saúde informou que não foi possível atualizar os dados nesta quinta-feira (26), porque o banco de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), sistema do Ministério da Saúde, não estava disponível para download.