O brasileiro Rodrigo Zeidan se prepara para fazer mais uma saída com permissão das autoridades nesta sexta-feira (14) durante o lockdown em Xangai. No dia 9 de abril, quando conseguiu estar ao ar livre, registrou em vídeo uma das principais avenidas da cidade praticamente vazia. O professor da NYU Xangai e da Fundação Dom Cabral foi um dos poucos moradores que recebeu permissão para sair durante o controle sanitário que mantém a maioria da população de mais de 25 milhões de habitantes em casa, sem previsão exata de quando a restrição será encerrada.
—É muito estranho. Pude sair, porque fui pegar remédios em uma clínica. Eu tenho autorização porque vou de bicicleta e eles sabem que vou e volto sem parar em lugar nenhum — relata Rodrigo, que está desde o dia 24 de março cumprindo o isolamento com a esposa e o enteado.
O professor conta que novos casos foram confirmados no condomínio onde vive e, por isso, o prazo de isolamento foi prorrogado. Ele explica que são três formas de conseguir comida nesse período: se inscrevendo em um programa do governo, tentando a sorte por aplicativos de entrega (que demoram várias horas ou dias) e por compras coletivas entre vizinhos que encontram produtores locais.
— Eu não conheço ninguém que está faltando comida, o que conheço é gente que não está comendo o que quer, que é o nosso caso. A gente come o que encontra.
Em um vídeo no Twitter, Rodrigo mostra o terceiro pacote entregue pelo governo em 20 dias de quarentena. Na gravação, comemora que a família vai comer cebola depois de três semanas. No dia 9 de abril, o brasileiro também mostrou que havia conseguido comprar 11 quilos de manga. A quantidade grande é porque havia um pedido mínimo da fruta.
— Minha mulher já fez sorvete de manga, arroz de manga... alguém quer uma manga aí? — comenta ele, em tom de ironia, no vídeo.
Com a política "covid zero", o objetivo das autoridades é eliminar os casos positivos realizando testes diários e colocando os pacientes com covid-19 em centros de quarentena por 14 dias. Houve situações de crianças que foram separadas dos pais e só retornaram para as famílias depois de cumprirem o prazo estabelecido para isolamento social. A medida causou revolta entre chineses e estrangeiros. Há também pessoas que estão morando dentro das empresas e continuam trabalhando sem poder voltar para casa.
Mudança de cenário
— Em 16 anos, eu nunca tinha visto os chineses se manifestando e criticando o governo, mas agora eles estão percebendo que está sendo inviável — conta gaúcha Karina Feldmann, que está há 40 dias isolada com o filho, de oito anos, em um condomínio.
A professora também relata que há pessoas com depressão e que faltam ambulâncias para os casos de outras doenças, porque os veículos estão sendo priorizados para levar pessoas contaminadas aos centros de isolamento.
Diariamente, a população é testada para o coronavírus. Com roupas que parecem de astronauta, equipes do governo vão até as casas para fazer os testes PCR. A comunidade também tem testes caseiros identificados por um QR code. Os resultados devem ser enviados todos os dias pelo sistema governamental para controle.
Outro gaúcho, de 49 anos e que prefere não ser identificado, passou por isolamentos pontuais em março e agora segue cumprindo o lockdown em seu condomínio desde 9 de abril. Segundo ele, a expectativa é que o prédio seja liberado entre o final deste mês e início de maio:
—Só que tudo isso pode ser revogado se aparecer um novo caso. Daí volta tudo pro início. Se tiver um caso por semana, vamos ficar em um eterno lockdown.
Ele diz que tem água e alimentos para mais 20 a 30 dias. Para passar o tempo em casa, está relendo livros, vendo filmes e jogando xadrez online. As refeições são em quantidade controlada, mas para manter o peso. Desde o final de março, guardou muitos enlatados, biscoitos e carne.
— Só sinto falta da minha liberdade e de sair para fazer as minhas atividades físicas, como o tênis — desabafa o gaúcho, que mantém o otimismo esperando o próximo estágio chegar para poder voltar a se exercitar dentro do condomínio.