Desde o começo de março, a China voltou a registrar elevação no número de casos de covid-19, o que fez com que novas restrições fossem adotadas, incluindo o confinamento de cidades e regiões. Um desses locais é a capital econômica do país, Xangai, onde mora a gaúcha Karina Feldmann, 43 anos.
Professora em uma escola internacional, ela mora há 16 anos na China e está há mais de 25 dias sem poder sair de casa. Ninguém tem permissão para entrar ou sair do condomínio onde ela mora, porque houve casos positivos confirmados.
O protocolo prevê isolamento por 48 horas, prorrogáveis por mais 12 dias, mas lá ainda não houve liberação. Foram dois casos assintomáticos confirmados na mesma torre e, por essa razão, as outras 51 do complexo foram isoladas.
Em contato com a reportagem de GZH, Karina mostrou fotos da porta do prédio com um cadeado. Ela também relata que os serviços de entrega de comida não estão levando pedidos até lá. A solução foi contar com a ajuda de um conhecido para passar as compras por cima do portão. No dia em que começou o isolamento, o filho dela, de oito anos, estava fora de casa, o que a deixou com medo de ficar separada dele.
— Foi muito desesperador, porque eles não queriam deixar o meu filho voltar para casa. Falaram que ninguém podia entrar. Eu fiquei mais de 40 minutos brigando.
Karina relata que houve escolas que ficaram fechadas por 48 horas com estudantes e professores dentro, por suspeita de casos positivos.
— Professores e alunos tiveram que dormir no chão nas escolas, por 48 horas, porque eles fizeram testes em todo mundo.
Com a política de "covid zero", o governo quer testar toda a população e, por isso, a cidade foi dividida em duas partes. O lockdown já está ocorrendo no lado leste do Rio Huangpu e, na próxima sexta-feira (1º), começa na parte oeste.
Para conseguir testar todos os moradores de Xangai, equipes vão até as casas com roupas e equipamentos de proteção. Os resultados entram em um cadastro de cada cidadão que serve como controle para o chamado "green code", que permite que a pessoa tenha acesso a locais por comprovar que não está com o vírus. Segundo Karina, a população deve ficar em casa, o que provocou uma corrida e falta de produtos em supermercados.
— O sentimento é de total desânimo, porque a gente não tem informação nenhuma, não sabe o que vai acontecer. É uma rotina do medo. As pontes estão fechadas, os túneis estão fechados. É uma situação muito delicada.
GZH falou com outro gaúcho que mora em Xangai. C. Huang, 49 anos, esteve em isolamento em seu condomínio por um período curto, de menos de cinco dias. O consultor de compras internacionais disse que, apesar das prateleiras vazias, conseguiu receber na quarta-feira (30) as compras realizadas no domingo em um supermercado. Ele vê a situação com mais esperança.
— As pessoas estão otimistas, bem receosas com o número de casos, mas não se ouve muitos comentários ruins.
Dos quase 27 milhões de habitantes de Xangai, 87% estão vacinados com duas doses. Estádios e centros de exposição foram transformados em locais de quarentena para receber quem testou positivo.
No Twitter, a jornalista estrangeira Emma Leaning compartilhou como foi sua experiência ficando em um centro de quarentena que abrigava 7 mil pacientes. Confira o vídeo abaixo: