A pesquisa para a vacina contra a dengue do Instituto Butantan deve entrar em nova fase neste ano, segundo informou o Hospital São Lucas da PUCRS, um dos centros envolvidos no projeto. O desenvolvimento do imunizante sofreu atrasos, até por causa da covid-19, mas a projeção do infectologista Fabiano Ramos, que lidera o estudo no Rio Grande do Sul, é de que novos voluntários sejam recrutados em Porto Alegre e Pelotas nos próximos meses.
Desde 2010 o Butantan, em São Paulo, está debruçado sobre a criação de um imunizante para a dengue. A expectativa é alta diante dos surtos de dengue no Estado, já que a vacina é tetravalente, capaz de proteger contra os quatro tipos da doença provocada pelo Aedes aegypti, e administrada em dose única. Com a pandemia, no entanto, o laboratório paulista voltou sua atenção para uma vacina contra a covid-19, que é a CoronaVac.
Foi em 2016 que o São Lucas da PUCRS fechou parceria com o Butantan e tornou-se um dos 14 centros de pesquisa do Brasil que conduzem os testes da vacina contra a dengue. Segundo Ramos, cerca de 500 pessoas participaram da fase clínica no Estado, chamada de fase três, sendo que metade tomou placebo e a outra recebeu o imunizante.
Esses voluntários foram acompanhados ao longo dos cinco anos, e foi observado que o imunizante não provoca reações adversas. Mas, a pedido da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é necessário que a substância utilizada na pesquisa seja produzida em fábrica própria do Butantan, que já está pronta.
Por isso, segundo o infectologista, será feito um novo recrutamento, de 500 a 700 pessoas. Ainda não está confirmada a data para início das inscrições dos novos voluntários.
— Uma das exigências para a conclusão da pesquisa foi a construção de uma fábrica para a vacina da dengue no Butantan. Com a pandemia, houve uma mudança de foco, e a pesquisa acabou tendo um atraso. A ideia de aplicar novamente a vacina é ter um controle dessa produção, já agora com a fábrica do Butantan — explica o médico, que também conduziu o estudo com a CoronaVac no Estado.
A decisão de aplicar a vacina em Porto Alegre e Pelotas se dá porque são cidades com baixa incidência da dengue, se comparadas com regiões mais ao norte ou mesmo no sudeste do Brasil. É usando a vacina em quem nunca entrou em contato com o vírus que se comprova sua eficácia, garante Ramos.
De acordo com a gerente de Projetos Virais do Instituto Butantan, Neusa Gallina, a vacina contra a dengue utiliza o vírus inativado, que simula a resposta natural da doença. "Ou seja, induz a uma proteção mais duradoura e torna a vacina mais eficiente, sem necessidade da administração de muitas doses de reforço", escreveu ela em nota encaminhada a GZH.
Se aprovada, a vacina do Butantan contra a dengue não será a primeira em uso no Brasil. Em 2015, a Anvisa aprovou o imunizante chamado Dengvaxia, do laboratório Sanofi-Pasteur. O medicamento é considerado restrito, porque protege apenas contra dois tipos da dengue. Também se verificou que a vacina pode ter reações adversas em quem nunca teve a doença, e chegou a ser contraindicada nesses casos.