Mesmo com o avanço acelerado da variante Ômicron, a Dinamarca abandona definitivamente, nesta terça-feira (1º), todas as restrições para conter a pandemia, tornando-se o primeiro país da União Europeia (UE) a suspender as medidas sanitárias. Mais de 60% da população local já recebeu a dose de reforço da vacina contra covid-19. No restante da UE, a taxa é inferior a 45%.
– Temos um número extremamente elevado de adultos vacinados com as três doses. É o nosso segredo – afirma a epidemiologista Lone Simonsen, professora da Universidade de Roskilde, perto da capital do país, Copenhague.
Com a nova conduta, a população está livre do uso de máscaras ou cobrança de passaporte sanitário, por exemplo. As casas noturnas também reabrem nesta terça-feira, e sem limite de capacidade. A única restrição mantida é válida para quem quiser ingressar no país, pois é preciso confirmar imunização contra a covid-19.
– Estou muito feliz que isto acabe. É bom para a vida na cidade, a vida noturna, poder sair por mais tempo – diz Thea Skovgaard, estudante de 17 anos.
A flexibilização quase total acontece no momento em que a Dinamarca registra entre 40 mil e 50 mil contágios diários de covid-19. É um nível recorde, que representa quase 1% dos 5,8 milhões de habitantes do país. Incluindo os casos recentes, as autoridades de saúde calculam que 80% da população está protegida contra as formas graves da doença.
– Com a ômicron, que não é uma doença grave para os vacinados, pensamos que é razoável retirar as restrições – destaca Lone Simonsen.
A epidemiologista considera que a circulação da variante criará uma imunidade mais duradoura e permitirá enfrentar de maneira mais eficiente as futuras ondas do vírus.
A maioria da população apoia a estratégia, após dois anos de pandemia: 64% dos dinamarqueses confiam na política de saúde do governo, conforme pesquisa publicada na segunda-feira (31) pelo jornal Politiken.
Responsabilizar
– É hora de que todos assumam sua responsabilidade – ressalta Simonsen. – Sem o certificado sanitário, há uma mudança de responsabilidade. Os dinamarqueses recorrem cada vez mais aos autotestes, no momento em que diminui o número de testes de antígenos disponíveis. Deste modo, as pessoas sintomáticas saberão se estão infectadas e poderão permanecer em casa – alega a epidemiologista.
Em caso de resultado positivo no teste, a Agência Nacional de Saúde ainda recomenda isolamento de quatro dias. Já os casos de contato não precisam mais seguir uma quarentena obrigatória.
O governo mantém a recomendação de uso de máscara e de passaportes sanitários para as visitas aos hospitais.
Apesar do otimismo, as autoridades pedem prudência.
– Não podemos dar garantias, quando se trata de biologia – afirmou a primeira-ministra Mette Frederiksen, que anunciou, na semana passada, o "retorno à vida como conhecíamos antes do corona".
Esta não é a primeira vez que o reino escandinavo aposta no retorno à normalidade. Em 10 de setembro, a Dinamarca suspendeu as restrições, antes de retomar a obrigatoriedade do passaporte sanitário em novembro. Fechados pouco antes do Natal, museus, cinemas e salas de espetáculos reabriram em janeiro.
Com um nível hospitalizações em UTIs inferior ao das ondas anteriores, vários países europeus, como França e Reino Unido, anunciaram uma redução considerável, ou mesmo a suspensão, da maioria das restrições. O nível de contágios segue, porém, elevado.
– Após dois anos de pandemia, as populações na maioria dos países atingiram níveis de imunidade elevados, com as vacinas, ou de maneira natural. É assim que termina, a julgar pelo que vimos em pandemias anteriores – explicou Simonsen.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 73% da população europeia contraiu a covid-19 pelo menos uma vez desde 2020.