Em pessoas vacinadas, a variante Ômicron do coronavírus, predominante atualmente, tende a causar uma infecção respiratória leve. A infecção pela nova cepa se diferencia muito de um quadro grave de gripe, mas guarda diversas semelhanças com outros problemas que atacam as vias aéreas superiores, como é o caso das alergias e dos resfriados. As observações são do infectologista Luciano Goldani, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Por causa da convergência de sintomas, até mesmo médicos ficam em dúvida sobre o problema que acomete o paciente, o que torna ainda mais importante a testagem para diagnóstico da covid-19.
Segundo o especialista, o indivíduo que está infectado pela Ômicron geralmente apresenta tosse, cansaço, congestão e corrimento nasal, além de desconforto na garganta e dor de cabeça. A febre, se acontecer, não é alta.
— A Ômicron é mais leve, com manifestações parecidas com um resfriado, mas foge muito do quadro gripal de dor no corpo, febre alta, falta de ar — explica Goldani.
Um resfriado tende a provocar sintomas como espirro, coriza, tosse e mal estar, mas geralmente não causa febre — no máximo uma febrícula, febre baixa — , aponta o infectologista do Grupo Hospitalar Conceição André Luiz Machado. Já um quadro de alergia costuma suscitar coriza, espirro, coceira no nariz ou na garganta, sem febre associada. No caso da gripe — causada pelo vírus Influenza — há manifestação de sinais síndrome gripal, como febre alta, tosse, dor de garganta, dor no corpo e dor articular.
— A gripe é uma doença mais sintomática, na qual o indivíduo fica mais comprometido fisicamente. Já o resfriado costuma ser mais leve, confundindo-se com um quadro alérgico — afirma André.
Segundo o infectologista, a formação de secreção, de catarro, pode ocorrer no período inicial das quatro doenças, mas com aspecto de tom mais claro. No entanto, com o passar dos dias essa secreção tende a tornar-se mais esverdeada ou amarelada no caso de infecções virais. O problema é que essa mudança de cor só ocorre por volta do quinto a sétimo dia de infecção, período em que uma pessoa com covid não-diagnosticada e que não se isolou já poderá ter contaminado várias pessoas no seu entorno. Assim, não é prudente esperar tanto tempo para buscar um diagnóstico.
Testagem
Por causa da semelhança com sintomas da Ômicron, mesmo quem tem histórico de rinite e alergias ou quem acredita piamente que está apenas sofrendo de um resfriado deve ser testado para o Sars-cov2, observa André. Trata-se de um gesto de cuidado consigo e que minimiza danos a terceiros.
— As pessoas precisam ser conscientes pois temos uma variante com alta transmissibilidade, em que um indivíduo pode transmitir para mais 15 a 20 pessoas. Se não valorizar seus sintomas e não fizer o teste, pode ficar transmitindo a doença de uma forma mais fácil, colocando em risco a saúde de outras pessoas, principalmente de grupos que já têm imunidade comprometida, como idosos ou crianças pequenas que ainda não tiveram a oportunidade de serem vacinadas — afirma André.
A recomendação é que, mesmo diante de um primeiro teste de antígeno com resultado negativo para covid-19, a pessoa sintomática não descarte estar com coronavírus, pois a possibilidade de infecção ainda existe. Resultados falsamente negativos podem advir de uma testagem precoce, feita muito no início dos sintomas, ou de uma coleta inadequada da secreção. André orienta que pessoas sintomáticas mantenham o distanciamento, usem máscara e façam um teste PCR pra confirmar ou descartar doença.
Já a investigação concomitante para influenza e covid, tendo em vista que os exames nem sempre são gratuitos no Brasil, deve ser feita principalmente para diagnosticar rápido idosos e crianças com menos de seis anos.
— Estes extremos de idade são os grupos com mais risco para evoluir pra formas graves da gripe. Nesses casos, o uso de Tamiflu proposto nas primeiras 48 horas modifica a evolução da doença. Mas, de uma forma geral e prática, estamos vendo no hospital que diminuiu muito o número de infecções por Influenza, já está bem diferente do início de janeiro. A Ômicron está se sobrepondo — observa André.