Ao anunciarem nas redes sociais, na manhã deste sábado (29), que a filha Lua, de um ano e quatro meses, foi diagnosticada com retinoblastoma, o apresentador Tiago Leifert e a esposa, a jornalista Daiana Garbin, deram luz a um problema que grande parte do público nem sabe que existe.
Segundo o chefe do Serviço de Oncologia Pediátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Lauro José Gregianin, o retinoblastoma é um câncer nas células da retina, camada que fica na parte posterior do globo ocular e é como se fosse uma extensão do sistema nervoso central. A retina capta a luz que entra pelo olho e a transforma num impulso nervoso que vai através do nervo óptico até o córtex cerebral, formando a imagem. No Rio Grande do Sul, de acordo com Gregianin, por ano, ocorrem cerca de 20 casos deste tumor em crianças.
— Ele costuma dar em crianças de até dois anos. As duas formas de surgir o retinoblastoma são a hereditária, quando a criança nasce com uma predisposição de ter o tumor por conta dos antepassados que tiveram e ele surge antes de um ano de vida nos dois olhos, e a não-hereditária, que aparece em apenas um dos olhos em crianças com dois anos de vida. Mas até cinco anos de idade pode surgir o retinoblastoma — alerta o médico.
Conforme a médica oftalmologista no Grupo Hospitalar Conceição Aline Hackbart, o sinal mais comum do retinoblastoma é um reflexo esbranquiçado na pupila, chamado de leucocoria, que aparece especialmente em fotos com flash. Outro sinal de alerta é o desenvolvimento de um desvio ocular (estrabismo) que a criança não apresentava antes. Existem outros sinais, como mudança na coloração da íris e inflamação ocular, mas são menos comuns.
Como o retinoblastoma afeta crianças de até cinco anos de idade e a maioria dos diagnósticos é feita ao redor dos 18 meses de vida, não se pode esperar alguma queixa da criança. A observação atenta dos responsáveis é essencial, acrescenta a oftalmologista.
— O diagnóstico é feito com um exame cuidadoso de fundo de olho, com dilatação de pupila. Por se tratar de crianças muito pequenas, pode ser necessária sedação para um exame mais preciso e com menos desconforto. Além disso, é realizada ecografia ocular e exames de imagem, como tomografia e ressonância magnética, para confirmação diagnóstica e para pesquisar a extensão do tumor — explica Aline.
A primeira avaliação dos olhos do bebê, ressalta a oftalmologista, é feita pelo pediatra ainda na maternidade, o chamado teste do olhinho. No entanto, o retinoblastoma raramente está presente ao nascimento. Por isso, os médicos recomendam levar a criança ao oftalmologista para uma consulta de rotina com seis meses de idade e depois com um ano. Estando tudo bem, a consulta pode passar a ser anual.
— Além de poder diagnosticar precocemente esse tipo de tumor, é possível fazer a prevenção de outros problemas oculares, e até mesmo prescrever óculos se a criança precisar — ressalta Aline.
De acordo com Gregianin, no início do tumor, quando ele ainda é chamado de semente, o tratamento pode ser feito com laser ou crioterapia, e se consegue fazer estagnar ou desaparecer. Dependendo da situação, se faz quimioterapia intra-arterial, procedimento sofisticado e também feito no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. A quimioterapia é injetada na artéria que está irrigando a região do tumor. Se confirmado que o tumor atravessou todas as camadas, é preciso remover o olho.
Alerta a outros pais
No caso da pequena Lua, filha de Daiana e Leifert, quem percebeu que havia algo incomum nos olhos da criança foi o pai. Depois de Daiana também notar uma mudança nos olhos de Lua, o casal procurou um oftalmologista e recebeu o diagnóstico.
— Nós estamos tratando há quatro meses. A gente pensou longa e duramente se a gente ia falar alguma coisa e o consenso entre a família e os amigos é que não, nós não deveríamos falar nada, deveríamos focar "aqui" no tratamento. E vocês que acompanham o casal sabem que nós somos extremamente discretos com a nossa vida pessoal, raramente nós postamos algo sobre o nosso dia a dia — afirmou o apresentador.
Em seguida, Leifert explicou que o casal decidiu falar sobre a situação porque depois da última sessão de quimioterapia de Lua mudaram de opinião e optaram por compartilhar o diagnóstico para alertar outros pais ou responsáveis.
Para os especialistas consultados por GZH para esta reportagem, o vídeo feito pelo casal é educativo e desperta a atenção para um problema que poucas pessoas têm conhecimento.
— É importante levar a atenção das pessoas aos sinais de alerta e levar as crianças para consultar em caso de qualquer alteração. Além disso, as consultas oftalmológicas de rotina para os bebês ainda não são amplamente difundidas, tanto por dificuldade de acesso quanto pelo fato de os pais, simplesmente, não saberem que são necessárias. Diagnosticando precocemente, temos mais chance na luta contra essa doença — finaliza Aline.