Os estudos são claros: poucos efeitos adversos foram relatados em crianças de cinco a 11 anos após a aplicação da vacina contra a covid-19. A maioria deles é leve, como dor no local da aplicação e febre, nada diferente de reações já observadas em imunizantes contra o sarampo ou febre amarela, por exemplo. Por isso, na avaliação de especialistas, deixar os pequenos sem a imunização é mais grave do que submetê-los à injeção.
Segundo a bula da Pfizer, única vacina autorizada para uso pediátrico no país, as reações mais comuns são dores de cabeça, muscular e no local da injeção, com possível vermelhidão e inchaço onde a agulha foi inserida. Também pode haver cansaço e calafrios. Esses efeitos ocorrem em apenas 10% das crianças imunizadas. Em menor ocorrência - menos de 10% dos casos-, pode haver diarreia, vômito, dor nas articulações e febre.
Para todos esses efeitos, não há motivo para que pais se alarmem, garante o infectologista pediátrico Fabrizio Motta, supervisor-médico do Controle de Infecção e Infectologia Pediátrica do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Basta lançar mão de medidas simples, que as famílias já estão acostumadas a utilizar.
– No caso de dor no local da vacina, dá para colocar um paninho úmido, mais fresco, sobre a área, o que reduz o desconforto. No caso de febre, que pode acontecer, é importante que os pais deem bastante líquido para as crianças se manterem hidratadas, além de garantir roupas leves. Se necessário, pode medicar com um antitérmico –indica.
Se houver sintomas mais intensos, é recomendado entrar em contato com um pediatra. Mas nunca, frisa o médico, se deve medicar as crianças previamente, fazendo uso de um antitérmico antes da vacinação, porque não terá efeito.
Já a miocardite, inflamação no coração usada pelo movimento antivacina como principal motivo para os pais não levarem os pequenos aos postos de saúde, é extremamente rara. E mesmo quando aconteceu, não apresentou maiores problemas, observa o infectologista e pediatra Marcelo Otsuka, coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
– Tem muita gente que comenta a respeito da miocardite. O que foi observado: nos Estados Unidos, em mais de 9 milhões de doses aplicadas em crianças de cinco a 11 anos, surgiram cerca de dez casos de miocardite. Não houve internações por causa desse problema e todas as crianças evoluíram bem, com recuperação total, sem necessidade de tratamento - aponta o médico.
Se o medo é de que a criança tenha problemas cardíacos devido à vacina, a ciência aponta o contrário: é a justamente a infecção gerada pela covid-19 que coloca o coração em risco. Dados do Ministério da Saúde alertam para os prejuízos da Síndrome Inflamatória Multissistemica Pediátrica (SIM-P), que pode, inclusive, levar à morte, como já foi registrado no Rio Grande do Sul.
– É uma síndrome muito grave, que acometeu mais de 1,4 mil pessoas do público pediátrico (até 18 anos) infectadas pelo coronavírus aqui no Brasil. Todas essas crianças precisaram de internação e mais da metade teve problemas no coração, como arritmia e miocardite. Dessas, 85 morreram, principalmente por conta das alterações cardíacas. Ou seja: quando a gente faz a vacinação nas crianças, a gente também reduz essa doença cardíaca que a covid-19 provoca. É uma demonstração clara de que é importante vacinar - frisa o pediatra.
Há doenças que fazem menos mal às crianças do que a covid-19 e para as quais as famílias garantem a imunização, aponta o infectologista Eduardo Sprinz, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Por isso, na avaliação dele, é injustificável não querer dar aos pequenos essa nova proteção.
– É totalmente descabido. As notícias falsas e a politização atrapalham muito. Tipo, a caxumba: o potencial de fazer mal para crianças é muito menor que covid-19, mas os pais vacinam. Varicela? O potencial de fazer mal é muito menor que a covid, e os pais também vacinam – analisa Sprinz.
O que fazer no caso de a criança apresentar reações à vacina contra a covid-19*:
- Para reduzir a dor e o desconforto onde a injeção é aplicada, aplique um pano limpo, fresco e úmido sobre a área;
- Para reduzir o desconforto da febre, é indicado ingerir grande quantidade de líquidos, além de vestir a criança com roupas leves;
- Em caso de reações mais intensas, levar a um pediatra.
*Orientações do infectologista pediátrico Fabrizio Motta, do Hospital Santa Casa, e que podem ser encontradas no manual do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos