O recorde de 21.122 novas infecções por coronavírus em 24 horas, atingido nesta quarta-feira (19) pelo Rio Grande do Sul, acende um alerta vermelho de preocupação entre especialistas. Isso porque a expectativa é de que os números permaneçam altos ou em elevação por algum tempo. A boa notícia é que, apesar de gerar aumento na procura por atendimento em emergências e postos de saúde, os índices ainda não refletem na quantidade de internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e de mortes.
Alexandre Zavascki, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital Moinhos de Vento, destaca que o reflexo do alto número de casos confirmados no sistema de saúde é considerado proporcionalmente inferior às ondas anteriores da pandemia — o que, sem dúvida, se deve ao avanço da vacinação contra a covid-19 no Estado. Mesmo assim, chama a atenção para o impacto causado em outros serviços prestados pelos hospitais:
— Com o número de infecções atual, se tivéssemos a mesma proporção de hospitalizados, certamente o sistema hospitalar já teria sofrido um colapso. Mas começa a aumentar aos poucos o número de internados e isso faz pressão, ainda que em nível menor, sobre os atendimentos das demais doenças.
Para o médico epidemiologista Ricardo Kuchenbecker, que é gerente de risco do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), ainda não é possível ter a exata dimensão do crescimento exponencial de casos, porque não se sabe como será o comportamento da Ômicron em um local onde há altos índices de cobertura vacinal, como o Rio Grande do Sul. O que se pode observar, até o momento, é que os casos são, em sua grande maioria, menos graves do que aqueles registrados com variantes anteriores do coronavírus.
Ele concorda, no entanto, que o número de casos pode sobrecarregar o sistema de saúde, em especial a parte de internações hospitalares. Apesar de também acreditar que haverá repercussão na rede hospitalar, o presidente da Sociedade Rio-Grandense de Infectologia (SRGI), Alessandro Pasqualotto, afirma que não será nada comparado às situações vistas anteriormente.
— A vacinação diminuiu de modo impressionante o número de mortes e de casos graves na nossa sociedade. Hoje, temos uma covid-19 que se espalha muito, mas é muito branda em manifestação clínica. Claro que pode causar a morte, mas em uma parcela muito pequena em comparação ao que já se teve — pontua.
Números devem continuar aumentando
O maior problema é que não há nenhum indicativo de que este aumento tenha perdido força. Para os especialistas, a elevação ainda está se potencializando e, por isso, a perspectiva para os próximos dias segue sendo de crescimento.
— Não temos como prever se o número vai se estabilizar, o vírus vai continuar se proliferando e infectando pessoas à medida que encontrar suscetíveis. Ou seja, quanto mais vacinada a população for, menor as chances de os índices continuarem a aumentar — ressalta Kuchenbecker.
O epidemiologista cita ainda um fator que considera novo e preocupante, já que as novas infecções representam não só casos potencialmente mais graves, mas também um risco de surgimento de outras variantes:
— Nas semanas anteriores, estávamos atribuindo esse crescimento à Ômicron e ao efeito das festas de fim de ano. Mas já estamos em um período que vai além desse impacto, o que significa que a diminuição das medidas de proteção está contribuindo para a disseminação e persistência da Ômicron.
Essa onda continuará em uma frequência alta durante um bom tempo, afirma Pasqualotto. Isso porque, com a doença se manifestando de forma branda, as pessoas ficam mais relaxadas com as pedidas de proteção, o que faz com que o vírus continue circulando. O presidente da SRGI acrrredita que o número elevado de casos deve durar até depois do Carnaval.
— Vejo isso com certo otimismo, porque o pânico da morte e do adoecimento já não existe na intensidade que existia antes. Então, se por um lado é ruim ter tamanha dispersão do vírus, por outro tranquiliza ver que estamos entrando em uma nova fase da infecção, em que a doença já se tornou algo mais banal, graças à vacinação — finaliza.