Todos os casos de influenza do tipo A-H3N2 registrados no Rio Grande do Sul ocorreram em dezembro. Uma mulher de 67 anos, de São Francisco de Paula, foi a primeira vítima da doença no Estado neste ano.
Conforme a epidemiologista Tani Ranieri, chefe da Vigilância Epidemiológica do CEVS, o subtipo H3N2 da influenza não é um vírus novo. Ele foi identificado em 1968, quando provocou uma epidemia chamada Influenza de Hong Kong.
Desde 2020, porém, quando teve início a pandemia de coronavírus no mundo, esse subtipo do vírus da influenza não era identificado pelas unidades sentinelas da rede nacional de saúde, que monitora casos de síndrome gripal — o cenário estava tomado pelo Sars-COV-2. No Estado, foram registrados casos nas cidades de Cachoeirinha (um), Gramado (quatro), Harmonia (um caso com hospitalização), Montenegro (um), Osório (um), Pelotas (um), Porto Alegre (cinco hospitalizações), São Francisco de Paula (seis casos com uma hospitalização que evoluiu para óbito), Sapiranga (um) e Viamão (três casos com uma hospitalização).
Por enquanto, não há resultado do sequenciamento genômico dessas amostras para identificar se a linhagem é a mesma já confirmada em surtos recentes registrados nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo.
Confira mais informações sobre influenza do tipo A-H3N2:
Sintomas
A influenza (gripe) apresenta sintomas parecidos com os da covid-19 e a transmissão ocorre da mesma forma. Os principais sintomas são febre, tosse, dor de garganta, dores no corpo e na cabeça, calafrios, secreção nasal excessiva e prostração. No adulto, o quadro clínico em pessoas saudáveis pode variar de intensidade. Nas crianças, a temperatura pode atingir níveis mais altos, sendo comum o achado de aumento dos linfonodos cervicais e podem fazer parte os quadros de bronquiolite ou bronquite, além de sintomas gastrointestinais. É preciso ficar atento aos sinais de gravidade nos adultos, como: falta de ar e dificuldade para respirar, dor ou pressão no peito ou estômago, sinais de desidratação, como tonturas ao ficar de pé ou não urinar e, ainda, confusão mental. Nas crianças, os sinais de alerta são respiração rápida ou dificuldade para respirar, pele azulada (cianose) ou acinzentada, não ter lágrimas ao chorar (em bebês), vômito acentuado ou persistente, apatia e irritabilidade.
Gravidade
A influenza é uma infecção viral aguda que afeta o sistema respiratório. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que a ocorrência de casos da influenza varia de leve a grave. A infecção pode levar ao óbito, especialmente naqueles que apresentam fatores ou condições de risco para as complicações da infecção (crianças menores de cinco anos de idade, gestantes, adultos com 60 anos ou mais, portadores de doenças crônicas não transmissíveis e outras condições clínicas especiais).
Transmissibilidade
É de elevada transmissibilidade e distribuição global, com tendência a se disseminar facilmente em epidemias sazonais e pode causar pandemias. Em todo o mundo, de acordo com a OMS, estima-se que estas epidemias anuais resultem entre 3 e 5 milhões de casos de doença grave e até 650 mil mortes.
Tratamento
Uma vez com gripe, deve-se procurar assistência médica para avaliação clínica e tratamento adequado, também ingerir líquido para evitar a desidratação, descansar e evitar contato com outras pessoas, por conta da transmissão. Segundo o Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVs), o tratamento previsto é com o fosfato de oseltamivir (também conhecido pelo nome comercial de Tamiflu), recomendado principalmente nas primeiras 48 horas desde o início de sintomas. Esse antiviral é utilizado para o combate a infecções pelos vírus influenza (como o H1N1 e o H3N2) desde 2009.
Período de contágio
O período de incubação do vírus é de três a cinco dias, quando começa a manifestação dos sintomas. Porém, também é possível que uma pessoa tenha a doença de uma forma assintomática, sem apresentar nenhuma reação. Durante o período de incubação ou em casos de infecções assintomáticas, o paciente também pode transmitir a doença. O período de transmissão do vírus em crianças é de até 14 dias, enquanto nos adultos é de até sete dias. A doença pode começar a ser transmitida até um dia antes do início do surgimento dos sintomas. O período de maior risco de contágio é quando há sintomas, sobretudo febre.
Medidas de prevenção
A imunização é a forma mais eficaz de prevenção contra a gripe e suas complicações. A vacina é segura e é considerada uma das medidas mais eficientes para evitar casos graves e óbitos pela doença. Ela é capaz de promover imunidade durante o período de maior circulação do vírus e a detecção de anticorpos protetores se dá entre duas a três semanas após a vacinação e, em média, confere proteção de seis a 12 meses, sendo que o pico máximo de anticorpos ocorre após quatro a seis semanas da vacinação.
Além do imunizante, é preciso seguir as regras de proteção de qualquer tipo de infecção respiratória, como a da covid-19, que incluem: manter a distância de 1,5 metros das outras pessoas, higienizar as mãos com frequência lavando com água e sabão ou usando álcool gel 70%, uso correto das máscaras cobrindo a boca e o nariz, adotar hábitos saudáveis, alimentar-se bem e manter-se hidratado, não compartilhar utensílios de uso pessoal, como toalhas, copos, talheres e travesseiros e evitar frequentar locais fechados ou com muitas pessoas.
Importância da vacina
O imunizante contra a influenza disponibilizado no país em 2021, na 23ª Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza, oferece proteção contra dois tipos de influenza A e um do tipo B (vacina trivalente) pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e dois tipos de influenza A e dois de B (vacina quadrivalente) na rede particular. De acordo com a SES, a vacina pode ser aplicada concomitantemente com a vacina da covid-19, não mais sendo exigido o intervalo mínimo entre as vacinas. A vacinação contra a influenza permite prevenir o surgimento de complicações decorrentes da doença, óbitos e suas consequências sobre os serviços de saúde, além de minimizar a carga da doença.
Situação no Rio Grande do Sul
O primeiro óbito causado pelo vírus influenza A-H3N2 no Rio Grande do Sul, em 2021, foi confirmado na quarta-feira (22). Segundo a Secretaria Estadual da Saúde (SES), a vítima foi uma mulher de 67 anos, em São Francisco de Paula, na Serra. Ela não havia recebido medicação antiviral e apresentava doenças crônicas.
Ao todo, já foram identificados pelo menos 24 casos no Estado, com oito hospitalizações. Todos notificados neste mês, sendo os únicos confirmados no Rio Grande do Sul ao longo deste ano. Por enquanto, não há resultado do sequenciamento genômico dessas amostras para identificar se a linhagem é a mesma já confirmada em surtos recentes registrados nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo.
Vacinação no RS
No Estado, a campanha de vacinação contra a gripe, ocorrida ao mesmo tempo em que havia a vacinação contra a covid-19, não atingiu a meta de cobertura nos grupos prioritários. Apenas 79% das pessoas consideradas de risco (idosos, pessoas com comorbidades, gestantes, puérperas e crianças) foram vacinadas. Conforme a SES, a vacinação segue disponível nos municípios que ainda possuem doses em estoque. As cidades que não têm mais doses podem solicitar novos lotes ao Estado. Todas as pessoas acima dos seis meses de idade podem fazer a vacina.
Situação nos outros Estados
Os surtos de influenza têm sido identificados em vários estados brasileiros: Mato Grosso do Sul, Bahia, Amazonas, Espírito Santo e São Paulo. O Rio de Janeiro já enfrenta uma epidemia de síndrome gripal causada pelo vírus influenza A-H3N2. Em Salvador, houve pelo menos um registro de óbito.