Um estudo publicado na revista Science Advances, na sexta-feira (29), apresentou as causas que colaboram para o declínio progressivo do sistema cognitivo vinculado ao Alzheimer. Segundo os pesquisadores, agrupados de proteínas tóxicas chegam a diferentes regiões do cérebro precocemente e lá se acumulam ao longo de décadas.
A pesquisa altera a teoria de que aglomerados se formam em um local do cérebro quando uma reação em cadeia ocorre em outras áreas; um padrão visto em ratos. Essa disseminação pode acontecer, mas não é o principal motivador, segundo os pesquisadores.
A equipe de cientistas descobriu que, em vez de partir de um único ponto no cérebro e iniciar uma reação em cadeia que leva à morte de células cerebrais, como se descrevia em estudos anteriores, a doença de Alzheimer atinge precocemente diferentes regiões do cérebro. Por meio da produção de proteínas tóxicas, a rapidez com que a doença mata as células nessas regiões limita a rapidez com que a doença progride em geral.
Essa foi a primeira vez que os cientistas usaram dados humanos para quantificar a velocidade dos processos que levam à doença de Alzheimer. Os pesquisadores usaram cerca de 400 amostras de cérebro post-mortem de pacientes com Alzheimer, assim como 100 tomografias PET (Tomografia por Emissão de Pósitrons) de pessoas que vivem com a doença desde o grau leve até o mais grave.
O objetivo era rastrear a agregação de tau, uma das duas proteínas-chave que implicam na condição. Na doença de Alzheimer, a tau e outra proteína chamada beta-amiloide se acumulam em agregados e fazem com que as células cerebrais morram e o cérebro encolha. É esse processo que resulta em perda de memória, alterações de personalidade e dificuldade para realizar as tarefas cotidianas. Estima-se que 44 milhões de pessoas sofram da doença em todo o mundo.
Crescimento exponencial
Pesquisas anteriores, conduzidas principalmente em animais, sugeriram que os agregados se formam em uma região e, em seguida, se espalham por todo o cérebro, da mesma forma que o câncer se espalha. O novo estudo aponta que, embora essa disseminação possa ocorrer, ela não é de fato o principal fator para a progressão da doença.
"Uma vez que temos essas sementes, pequenos pedaços de agregados por todo o cérebro, eles simplesmente se multiplicam e esse processo controla a velocidade", explicou Georg Meisl, químico da Universidade de Cambridge e principal autor do artigo.
O estudo conseguiu determinar que os agregados levam cerca de cinco anos para dobrar de quantidade. Esse número é "encorajador", de acordo com Meisl, porque mostra que os próprios neurônios do cérebro são bons em neutralizá-los.
— Talvez se pudermos melhorá-lo um pouco, possamos atrasar significativamente o início de uma doença grave.
O grau da doença de Alzheimer é medido de acordo com a chamada Escala de Braak. A equipe descobriu que leva cerca de 35 anos para progredir do estágio três, quando os sintomas leves começam a aparecer, para o estágio seis, o mais avançado.
Se os agregados dobram aproximadamente em cinco anos, em 35 anos eles teriam se multiplicado por 128. Esse crescimento exponencial "explica porque a doença demora tanto para se desenvolver e então a pessoa se deteriora rapidamente".
Os resultados dão brecha para novas maneiras de compreender o progresso de outras doenças neurodegenerativas além de Alzheimer, como o mal de Parkinson, colaborando para se encontrar outras formas de desenvolver tratamentos futuros.
— Tau é uma proteína culpada por vários tipos de demência e faria sentido explorar como ela se espalha em doenças como a demência frontotemporal — afirma Sara Imarisio, do instituto Alzheimer's Research UK.