A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) também se manifestou de forma contrária ao recuo do Ministério da Saúde na vacinação de adolescentes sem comorbidades entre 12 e 17 anos de idade – assim como a Sociedade Brasileira de Pediatria. A entidade afirma que a divergência está baseada em estudos científicos e na autorização que a vacina da Pfizer recebeu da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em nota, a Sociedade listou os motivos para defender o uso da vacina nesta faixa, esperando uma mudança na postura da pasta da Saúde.
Entre os argumentos listados, está o aumento de casos de coronavírus no país, a diminuição de mortes após o uso da vacina e problemas clínicos que o contágio da covid-19 pode gerar.
“A covid-19 pode causar danos cardíacos relevantes, tanto em adultos quanto em adolescentes, com uma frequência mais elevada” diz um trecho da nota.
“Suspender a vacinação de adolescentes nesse momento pode prejudicar o bom andamento do controle da pandemia no território nacional, bem como gerar insegurança quanto ao uso dos imunizantes”, diz outro trecho do texto divulgado pela SBI.
Concluindo seu posicionamento, a entidade pondera que recomenda a continuação da campanha de vacinação em adolescentes desde que não traga prejuízo aos grupos mais vulneráveis, como idosos e pessoas com comorbidades.
Confira, na íntegra, a nota da SBI:
"MANIFESTAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFECTOLOGIA SOBRE A SUSPENSÃO DA VACINAÇÃO DE ADOLESCENTES
Elaborado em 17/09/2021
A Sociedade Brasileira de Infectologia vem por meio deste comunicado manifestar posição divergente da Nota Informativa nº 1/2021 - SECOVID/GAB/SECOVID/MS, que suspende a vacinação de adolescentes sem comorbidades, recomendando a vacinação apenas para os adolescentes entre 12 e 17 anos que tenham deficiência permanente, comorbidades ou que estejam privados de liberdade.
Tal divergência está embasada nas seguintes considerações:
1) A vacina da Pfizer/BioNTech foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para ser aplicada em adolescentes de 12 a 17 anos por ter apresentado eficácia e segurança nesta faixa etária em estudos clínicos que seguem as normas internacionais de “boas práticas clínicas”, conforme informação disponibilizada em seu sítio eletrônico (https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2021/anvisa-autoriza-vacina-da-pfizer-para-criancas-com-mais-de-12-anos);
2) No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, foram registrados 1.545 eventos adversos entre os 3.538.052 adolescentes vacinados no Brasil até o momento, o que corresponde a 0,043%. Não houve divulgação da gravidade destes eventos, tampouco é sabido se tais eventos ocorreram de forma casual/aleatória ou se foram correlacionados de modo direto à aplicação do imunizante (relação causa-efeito);
3) O registro de óbito da adolescente de 16 anos que recebeu a vacina da Pfizer/BioNTech está em investigação pela ANVISA e não permite, até o momento, concluir se teve relação com a aplicação do imunizante;
4) Os benefícios da vacinação de adolescentes superam substancialmente os riscos. A incidência de eventos adversos graves, como miocardite e/ou pericardite, é de 16/1.000.000 de pessoas que recebem duas doses da vacina. A própria COVID-19 pode causar danos cardíacos relevantes, tanto em adultos como em adolescentes, com uma frequência mais elevada;
5) Vários países já iniciaram a vacinação de adolescentes. A investigação dos eventos adversos nesta população é motivo de atenção e acompanhamento. Porém, em nenhum local, houve a suspensão desta recomendação por essa razão;
6) A significativa redução de novos casos e de mortes por COVID-19 no Brasil nos últimos três meses, ainda que muito aquém de considerarmos a pandemia controlada, deve-se principalmente ao avanço da vacinação da população. Suspender a vacinação de adolescentes nesse momento pode prejudicar o bom andamento do controle da pandemia no território nacional, bem como gerar insegurança quanto ao uso dos imunizantes.
Tendo em vista os pontos acima elucidados, esperamos que o Ministério da Saúde reconsidere seu posicionamento, especialmente considerando a inexistência de evidências científicas contrárias ao uso da vacina Pfizer/BioNTech em adolescentes e a fundamental importância de vacinarmos o maior número possível de brasileiros com a maior rapidez.
A Sociedade Brasileira de Infectologia recomenda que a vacinação de adolescentes seja retomada, sem que haja prejuízo de outros grupos prioritários, como idosos, indivíduos com doenças crônicas e imunossuprimidos.
Participaram da elaboração deste documento:
Diretores da Sociedade Brasileira de Infectologia:
Dr. Clóvis Arns da Cunha (Presidente)
Dr. Alberto Chebabo (Vice-Presidente)
Dr. Antonio Carlos de Albuquerque Bandeira (1º Secretário)
Dra. Priscila Rosalba Domingos de Oliveira (1ª Tesoureira)
Dr. Marcos Antonio Cyrillo (2º Tesoureiro)
Dra. Christiane Reis Kobal (Coordenadora de Comunicação)
Dr. Estevão Urbano Silva (Coordenador de Informática)
Dr. Sérgio Cimerman (Coordenador Científico)
Comitê de Imunizações da Sociedade Brasileira de Infectologia:
Dra. Rosana Richtmann
Dra. Karen Mirna Loro Morejón
Assessor da Diretoria e Consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia:
Dr. Leonardo Weissmann"