Mais dois hospitais que contam com serviço de medicina nuclear estão reagendando a realização de exames e tratamentos que dependem de radiofármacos. Nesta terça-feira (28), o Complexo da Santa Casa de Misericórdia e o Hospital de Clínicas confirmaram a redução dos procedimentos nesta semana ou até que ocorra a normalização do fornecimento de insumos como tecnécio, lutécio e iodo-131, que são produzidos e entregues exclusivamente pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). A instituição é ligada ao governo federal e responsável por 85% do fornecimento nacional de insumos químicos radioativos usados na medicina nuclear. Interrompido o suprimento por falta de recursos, a retomada da produção deve ocorrer na próxima sexta-feira (1º).
A Santa Casa confirmou a suspensão temporária de procedimentos e tratamentos que dependem dos radiofármacos. O hospital Santa Rita, que faz parte do complexo, realiza, normalmente, 250 exames de cintilografia por semana. Em razão do problema, foram agendados somente 90. Além disso, foram reagendados 16 pacientes que seriam atendidos entre segunda-feira passada (27) e 10 de outubro.
No Serviço de Medicina Nuclear do Hospital de Clínicas, sete pacientes que receberiam tratamento para câncer de tireoide tiveram que ser reagendados para data futura, quando se espera que a situação esteja normalizada. Além disso, até o momento, 35 cintilografias foram reagendadas por falta dos geradores de tecnécio. O exame detecta casos de câncer, risco de infarto e tromboembolismo pulmonar.
Além do Clínicas e da Santa Casa, os hospitais Moinhos de Vento e Nossa Senhora da Conceição, além do Instituto do Cérebro da PUCRS (InsCer), que atende aos pacientes do Hospital São Lucas e demais encaminhados ao local, também estão com agendas reduzidas. No caso do Conceição, somente 30% da capacidade de agendamentos foi garantida até sexta-feira. Em todas as instituições, somente casos mais urgentes estão sendo atendidos nesta semana.
Além da suspensão da produção dos radiofármacos pelo Ipen, a dinâmica da utilização desses insumos depende de entregas semanais. Esses fármacos têm uma vida útil que decai por conta de sua natureza radioativa.
— Pela natureza do material radioativo, ele não permite formar estoques. Portanto, esses materiais precisam ser fornecidos pelo Ipen semanalmente — disse o médico nuclear do InsCer, Diego Pianta.
A interrupção no fornecimento desses fármacos, segundo a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, está impactando entre 400 e 450 clínicas, com prejuízo para até 9 mil pacientes por dia no país. A entidade diz que, há meses, vem alertando o governo federal a respeito do problema.
Na semana passada, o governo federal liberou R$ 19 milhões para a importação e produção de insumos, mas a verba garantirá somente duas semanas de fornecimento a hospitais e clínicas do país.