Especializado na realização de exames de imagem para diagnóstico e tratamentos em câncer, o Instituto do Cérebro da PUCRS reorganizou sua agenda de atendimentos em razão da interrupção no fornecimento de fármacos pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). A instituição é ligada ao governo federal e responsável por 85% do fornecimento nacional de insumos químicos radioativos usados na medicina nuclear.
Ainda que o governo federal tenha anunciado a liberação de R$ 19 milhões para o Ipen na semana passada, a produção vai demorar para chegar aos hospitais.
No instituto da PUC, que normalmente recebe de 60 a 70 pacientes semanalmente, os atendimentos caíram pela metade, com perspectiva de normalização na próxima, quando é esperada a chegada dos fármacos. A instituição informou que reorganizou sua agenda para que nenhum paciente deixe de ser atendido na instituição.
Insumos como tecnécio-99m, de amplo uso na medicina nuclear, iodo-131, lutécio e gálio ainda não terminaram, mas são insuficientes para os atendimentos desta semana.
Conforme a PUC, os critérios utilizados para as remarcações foram a quantidade de insumo disponível, a urgência dos pacientes e o tipo de exame. Os atendimentos caíram pela metade nesta semana.
Já no Hospital Nossa Senhora da Conceição, pacientes em tratamento de câncer seguem com atendimento, mas os exames diagnósticos estão praticamente parados. Cerca de 80 pacientes com doenças oncológicas, do coração, cérebro e problemas renais foram remanejados para a próxima semana. Nesta segunda-feira (27), é o primeiro dia em que faltou o gerador de tecnécio, utilizado para as cintilografias, exame que detecta casos de câncer, risco de infarto e tromboembolismo pulmonar.
— Ainda temos um pouco de material que nos possibilita a realização de 30% da nossa agenda, o que nos obriga a priorizar os pacientes internados e os casos mais urgentes. Estamos sob controle, por enquanto — ressalta Eduardo Vilas, médico do Serviço de Medicina Nuclear do Hospital Conceição.
Os pacientes de tratamento com iodoterapia para combater o câncer da tireoide terão atendimento normalizado a partir de 13 de outubro.
No Hospital de Clínicas, o tratamento de pacientes com a mesma doença poderá ser interrompido nesta semana, conforme diminuem os estoques de iodo-131.
Já na rede privada, o hospital Moinhos de Vento confirmou que foram realizados reagendamentos. Em nota, a instituição diz que "precisou adequar os agendamentos de procedimentos com radiofármacos para esta semana. Com a publicação no Diário Oficial da União de portaria que liberou recursos para a retomada da produção por parte do Ipen, a previsão é de que os atendimentos sejam normalizados a partir da semana que vem".
Em audiência na Câmara dos Deputados, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, afirmou nesta segunda-feira que os R$ 19 milhões liberados para a retomada da produção de insumos para tratamento de câncer só garantem duas semanas de trabalho. A produção dos radiofármacos foi suspensa no dia 20 deste mês por falta de recursos do Ipen e deverá ser retomada no dia 1º de outubro.
A interrupção no fornecimento desses fármacos, segundo a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, está impactando entre 400 e 450 clínicas, com prejuízo para até 9 mil pacientes por dia. A entidade, há meses, vem alertando o governo federal a respeito do problema.