Não há mais dúvidas: o surto de coronavírus enfrentado pelo Hospital Conceição, em Porto Alegre, foi provocado pela variante Delta. Análises de mais três amostras de secreção coletadas de pacientes apontaram a presença da cepa. A conclusão é da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. As informações foram divulgadas com exclusividade na manhã desta quarta-feira (1º) por GZH.
O hospital já tinha duas ocorrências dessa variante, que é mais transmissível e foi identificada pela primeira vez na Índia. Agora são, portanto, cinco casos de Delta no surto.
De acordo com a médica epidemiologista Ivana Varella, coordenadora do Núcleo de Epidemiologia da instituição, outras 12 amostras de testes ainda aguardam confirmação e devem ter resultado positivo, o que elevará o total de casos de Delta para 17.
– Os dois casos iniciais confirmados já davam uma forte perspectiva de causa pela variante Delta. Agora, com 17 casos confirmados ou suspeitos, não há dúvidas de que a Delta está envolvida como fonte de infecção desse surto que teve uma característica muito peculiar: um envolvimento de grande número de pacientes em curto intervalo de tempo – comenta Ivana, destacando a alta transmissibilidade da variante, que pode ser de cinco a seis vezes superior na comparação com o coronavírus original.
O boletim com a atualização mais recente da situação, divulgado na terça-feira (31), indicava 27 mortes e 170 casos confirmados de covid-19 – 96 pacientes e 74 funcionários positivados desde 4 de agosto.
Entre as vítimas fatais, estão dois pacientes infectados pela Delta. Dos doentes com exames aguardando confirmação, seis deles já faleceram. Trata-se, assim, de oito mortes provocadas, possivelmente, pela variante.
– Considerando que temos oito casos de envolvimento da Delta, atingimos uma proporção de 30% de pacientes que evoluíram para óbito com ela. Um terço dos óbitos que ocorreram neste surto tem relação com a Delta – detalha a epidemiologista, que acrescenta que, até aqui, o índice de letalidade do surto (número de mortes por covid-19 em relação ao total de pessoas confirmadas com a doença) é muito semelhante ao verificado no hospital como um todo, desde o início da pandemia.
Apesar dos números impactantes relacionados à crise no Conceição, uma das maiores e mais importantes entidades de saúde da Capital e do Estado, com 100% dos serviços prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), considera-se, desde a semana passada, que a situação está sendo controlada. De um total de 16 áreas afetadas (incluindo setores para pacientes e para profissionais de saúde), 12 estão livres, e mais uma deve ter o surto encerrado até amanhã pela manhã.
O período decorrido para que se possa declarar o encerramento do surto é de 14 dias sem novos diagnósticos. Sobre o cenário atual, Ivana comenta:
– Estamos lidando com uma variante que tem uma imprevisibilidade. Temos um tempo tanto para encerrar o surto quanto para lidar com as consequências, que são os óbitos. A média de tempo entre o início dos sintomas e o óbito é de 15 a 20 dias. Temos hoje seis pacientes em UTI.
Em relação à vacinação contra a covid-19 entre os infectados, o hospital informa que o percentual de colaboradores com imunização completa é de 83,8% – há funcionários contratados recentemente, que ainda não tiveram tempo de tomar a segunda dose, e também alguns que se negaram a receber as injeções. No grupo dos pacientes, 63,5% ganharam as duas aplicações.