Correção: o percentual da população total imunizada com duas doses ou vacina de dose única no Brasil é de 38,2%, e não 51,4%, como apontava o texto da reportagem entre 17h17min e 20h15min. O texto foi corrigido.
O que no ano passado parecia mera possibilidade enfim se transformou em real: a vacinação contra a covid-19 no Brasil engrenou e, a despeito dos percalços, avança. O Brasil já cobriu mais de 66% de toda a população com a primeira dose e 38,2% com duas doses ou vacina de dose única. No Rio Grande do Sul, o índice é ainda maior – 72% e quase 45%, respectivamente. Como resultado, cada vez mais brasileiros flexibilizam o distanciamento – e atividades como ver amigos e familiares para uma cerveja ou jantar ganham terreno.
Se duas doses de vacina reduzem os riscos contra o coronavírus, há consenso entre especialistas que, ainda que a vacinação tenha avançado, o momento atual não permite suspender todas as medidas de proteção, sob pena de o Brasil “queimar a largada”.
O primeiro motivo é que, proporcionalmente, ainda há muitas pessoas se infectando (a despeito de ser em patamares distantes do início do ano). O segundo é que faltam muitos indivíduos para tomar as duas doses e idosos para receber a terceira.
O terceiro motivo, que gera mais preocupação, é que países que atingiram o patamar que o Brasil atingiu em cobertura vacinal e que flexibilizaram em demasiado o distanciamento – em alguns casos, suspendendo até o uso de máscaras – colheram resultado negativo: aumento de casos, hospitalizações e mortes, com consequente volta de restrições ao comércio.
— O momento é muito bom, mas ainda não atingimos o nível de vacinação desejado. Estados Unidos e Israel abriram em excesso com a crença de que o nível de vacinação era suficiente, no nosso nível atual. Precisamos aprender com o que aconteceu lá e nos adequarmos. As pessoas podem entrar em contato com outras, se respeitarem as medidas — resume o médico Alessandro Pasqualotto, chefe da Infectologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e professor na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
Ainda que a variante Delta não esteja causando o estrago causada em outros países, médicos destacam que novas variantes sempre trazem surpresa e que, neste momento, ainda não é possível cantar vitória “antes da hora”.
O país está conseguindo manter a tendência de queda de casos e mortes porque, além da vacinação, muitos brasileiros mantêm o uso de máscaras, buscam encontros ao ar livre e governos ainda não liberaram todas as atividades por completo, diz o médico Alexandre Zavascki, professor do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
— Ainda estamos em níveis altos de infecção. Vacinação, uso de máscara e controle de ocupação de ambientes fechados precisam seguir por um tempo maior. Atividades que envolvem agrupamento de pessoas, principalmente se não for ao ar livre, são de maior risco, porque basta um estar infectado para passar a mais pessoas — diz Zavascki. — Mais importante do que ter álcool gel é ter janelas abertas — completa o médico.
O médico Fabiano Ramos, chefe da Infectologia do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), alerta que momentos de descontração entre amigos e familiares são os relatos mais comuns de pacientes que se infectaram com coronavírus.
— Grande parte das contaminações é de alguém que leva o vírus para a família. Em encontros de pessoas que não convivem no dia a dia, o ideal é manter a máscara. Quando houver alimentação, que seja em ambiente arejado e com distanciamento de ao menos 1,5 metro — diz o infectologista.
Veja os principais cuidados trazidos por especialistas: