Até então impopular, o ventroglúteo ganhou os holofotes depois que uma jovem de Joinville, em Santa Catarina, postou a tradicional foto da aplicação da vacina contra a covid-19 nessa área do corpo. Em suas redes sociais, ela explicou que, no município, a administração é feita nessa região e não no braço, como na maioria das cidades brasileiras.
Localizada mais na lateral do quadril (próximo de onde fica a cintura da calça), a área é considerada a mais segura para aplicação em razão da distância de grandes nervos e vasos, além da grande quantidade de massa muscular, observa Evelin Plácido, presidente da Regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm-SP).
Apesar da segurança, essa região não é a mais utilizada pelos profissionais da saúde, que carecem de treinamento durante a formação. É por isso que, habitualmente, o deltoide (músculo do braço) é o mais comum.
— O braço tem acesso mais fácil e é o que é ensinado nas escolas técnicas de maneira mais rotineira. Portanto, acaba sendo mais usado. O ventroglúteo não faz parte da maior parte das escolas de enfermagem. É mencionado nas aulas, mas como poucos profissionais conhecem, na prática, ele não é tão difundido e utilizado — argumenta Evelin, acrescentando que esse local não é novo - foi implementado em 1950 - e que precisa ser mais disseminado nos serviços de saúde.
Para além da segurança, a região também garante a eficácia da vacina, assim como o braço.
— O que interfere na resposta ao imunizante é a não realização da técnica correta. Desde que seja administrada no tecido muscular, não interfere na eficácia da vacina. Estamos falando de vacina intramuscular. Quando ela tem essa característica, precisa ser aplicada entre o músculo para desencadear a resposta adequada. Se por má prática a aplicação for feita em tecido de gordura, pode haver comprometimento da resposta imunológica — explica a representante da SBIm-SP.
Na literatura, completa Evelin, depois do ventroglúteo, a região vastolateral da coxa (lateral da coxa) é a mais segura para crianças, e, em terceiro lugar, vem o glúteo. O popular deltoide é o último da lista.
— Por segurança, o ventroglúteo sempre é o primeiro. Todas as áreas têm um risco, principalmente se não houver a delimitação. O grande risco do braço é que o nervo radial está muito próximo de onde se administra. Se ele for puncionado, pode comprometer a mobilidade. O glúteo fica perto do ciático, e o ventroglúteo não tem nada perto que comprometa — acrescenta Evelin.
Sucesso nas redes
O burburinho sobre o local escolhido para administrar as doses em Joinville foi tamanho que a prefeitura fez um vídeo explicativo. Nele, o secretário de Saúde do município, Jean Rodrigues, justificou a decisão:
— Por ser intramuscular, se optou pelo ventroglúteo, que é justamente onde se tem menos reações adversas à aplicação, especificamente à técnica de aplicação. (...) E as equipes estão capacitadas e utilizando ela.
Conforme Evelin, qualquer vacina intramuscular pode ser aplicada no local, assim como medicamentos, a exemplo de contraceptivos e Benzetacil.