O vaivém sobre a mudança do intervalo entre as doses das vacinas contra a covid-19 Oxford/AstraZeneca e Pfizer está causando confusão e dúvidas na população. A Secretaria Estadual da Saúde (SES) informou, na manhã desta quinta-feira (22), que o intervalo reduzido, de 10 semanas em vez de 12, em vigor desde a semana passada, deve ficar restrito às doses de AstraZeneca que já foram distribuídas aos municípios. Ou seja, se o município tiver vacinas, pode cumprir o prazo menor.
Assim que essas doses terminarem, a orientação do governo estadual é para que volte a ser implementado o prazo de 12 semanas entre as duas doses — isso vale também para o imunizante da Pfizer. Essa decisão, segundo a SES, foi tomada junto dos secretários municipais da área na última reunião da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) e segue recomendação do Ministério da Saúde.
O presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems-RS), Maicon Lemos, também secretário de Saúde de Canoas, diz que, como é de costume, a SES e os secretários municipais debaterão o assunto na CIB assim que chegar uma nova remessa de imunizantes ao Estado para que se decida o que será feito.
— Somos um colegiado com 497 secretários. Sempre atuamos pelo princípio da democracia, na vontade da maioria, e a maioria, no último pleito, foi favorável à antecipação para 10 semanas. Com o próximo lote para segunda dose, submeteremos o tema à CIB para ver o que fazer — diz Lemos.
Em Porto Alegre, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) seguirá aplicando as vacinas com previsão de retorno em 10 semanas. A nova determinação, de 12 semanas, valerá para os carregamentos futuros.
A mudança de prazos leva em consideração fatores como a variante Delta do coronavírus, mais transmissível e já identificada no Estado — até agora, dois casos foram confirmados em Gramado. A imunização completa, com as duas doses, oferece maior proteção, e seria melhor, segundo alguns especialistas, fazer isso em 10 semanas do que em 12 — mas aí se esbarra no problema da disponibilidade de doses. Tudo depende do cronograma de entregas do governo federal, que manda as vacinas aos Estados, e cada Estado distribui as doses aos municípios.
Em nota enviada a GZH na quarta-feira (21), o Ministério da Saúde confirmou a recomendação de 12 semanas e informou que “acompanha a evolução das diferentes variantes do sars-cov-2 no território nacional e está atento à possibilidade de alterações no intervalo recomendado entre doses das vacinas covid-19 em uso no Brasil”. De acordo com o texto, remetido pela assessoria de imprensa da pasta, o assunto foi discutido novamente pela Câmara Técnica Assessora em Imunizações no dia 16 de julho _ e permanece a recomendação de manter esse intervalo.
As sociedades brasileiras de Imunizações (SBIm) e de Pediatria (SBP) se manifestaram, neste mês, contrárias à redução do período entre as doses de Oxford/AstraZeneca e Pfizer, medida adotada em outros Estados. "Para o atual momento epidemiológico que vivemos e com a quantidade de doses atualmente disponível no país, a estratégia de manter o intervalo em 12 semanas, a exemplo do que fizeram Escócia, Inglaterra, Canadá e diversos outros países, parece correta e permite reduzir a carga de morbimortalidade (adoecimento e mortes) da doença", diz o texto divulgado. As entidades entendem que, "em breve, assim que conseguirmos contemplar a população de adultos a ser vacinada com pelo menos uma dose, o intervalo poderá ser reduzido, dentro de um cenário epidemiológico de menor transmissão comunitária".