Com a nova meta do governo estadual de aplicar a primeira dose da vacina da covid-19 em toda a população adulta do Rio Grande do Sul até 7 de setembro, especialistas alertam para a importância de se continuar reforçando que a segunda injeção (com exceção do imunizante do laboratório Janssen, de dose única) é que garante a imunização completa. Buscar os não vacinados, fazê-los procurarem as unidades de saúde e avançar na vacinação de adolescentes também são medidas consideradas essenciais para debelar a pandemia.
Juarez Cunha, pediatra e presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), celebra o bom desempenho gaúcho, que reflete organização e estratégia adequadas, mas destaca que ainda há muito trabalho pela frente.
— A prioridade será passar o recado da proteção não só do indivíduo como da coletividade. Convencer as pessoas. Segundo pesquisas, em torno de 5% da população não acreditam em vacinas, e esses você não consegue convencer. Cerca de 85% dos brasileiros pretendem se vacinar. Restam 10% que estão em dúvida, e é com esses que temos que trabalhar e melhorar os números — projeta Cunha.
Feita a primeira dose, o foco passa a ser estimular o público a voltar aos postos para a segunda. Esquecimento, dificuldades de acesso e locomoção e possíveis efeitos adversos são os obstáculos nessa fase. Em relação ao imunizante de Oxford/AstraZeneca, Cunha destaca que a ocorrência de reações é muito menor, se houver, na segunda dose.
Chefe do Serviço de Infectologia da Santa Casa de Porto Alegre, Alessandro Pasqualotto também afirma que o fundamental é o esquema vacinal concluído.
— A imunização é um fato coletivo. O que importa é que a população seja imunizada, mais do que o indivíduo. Nesse contexto, o que mais vale é a segunda dose, a imunização completa. Isso vai demorar mais para se obter. Muita gente não tem feito a segunda — constata o infectologista. — Se todos os adultos estiverem vacinados com uma dose a partir de setembro, talvez estará se aproximando o momento de viver com mais liberdade. Já estamos vivendo com mais liberdade. As vacinas revolucionaram a doença — complementa.
Pensando-se na imunidade coletiva ou de rebanho, que tem um percentual variável a partir de 70% da população, conforme inúmeros fatores — a realidade de cada país, os imunizantes em uso etc. —, Pasqualotto observa que os não vacinados interferem menos na totalidade quanto maior o número dos vacinados.
— Quem ficou para trás vai deixar de ser relevante se a maioria for vacinada. Só não quero que essa data (meta de vacinar todos os adultos até 7 de setembro) ficasse como marco, lembrando que tem que ter a segunda dose — reforça o médico da Santa Casa.
Outra barreira é a parcela mais jovem. O presidente da SBIm explica que esse público pode tornar o ritmo da campanha mais lento — quanto mais a faixa etária é ampliada, maior o número de pessoas que se recusa a oferecer o braço diante da seringa.
— Ainda existe aquela ideia de que a covid-19 é uma doença mais relacionada a pessoas de mais idade e com comorbidades. Jovens acham que podem tudo e que não correm riscos. Adolescentes e adultos jovens correm risco, sim — sublinha Cunha.
Para os dois especialistas, progredir na vacinação de 12 a 17 anos deve estar entre os próximos passos.
— Isso vai nos ajudar a atingir os percentuais para a imunidade coletiva. Com a variante Delta, muito mais transmissível do que as anteriores, o percentual necessário para a imunidade coletiva precisa ser maior, com adesão muito alta da população — diz Cunha, que recorda a importância da manutenção das medidas não farmacológicas, como uso de máscara, distanciamento e ventilação dos ambientes.
Campanhas anuais de imunização contra a covid-19 parecem ser o mais adequado, de acordo com Pasqualotto. São Paulo já programa para janeiro de 2022 o início de um novo ciclo de imunização.
Questionada por GZH sobre os planos a partir de setembro, a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual da Saúde não se manifestou até a conclusão desta reportagem.