O vaivém de regras determinadas pelos órgãos de saúde relacionadas à vacinação contra a covid-19 tem deixado a população em dúvida sobre as mudanças repentinas.
Uma das situações envolve as gestantes e puérperas que tomaram primeira dose de AstraZeneca e que completarão a vacinação com Pfizer, como em Porto Alegre. Porém, também há a possibilidade, segundo recomendação do governo federal, de, na ausência da vacina da Pfizer/BioNTech, ser utilizada a CoronaVac, parceria da farmacêutica chinesa Sinovac com o Instituto Butantan, de São Paulo (SP).
Para o coordenador da Rede Corona-Ômica BR-MCTI, Fernando Spilki, também professor do mestrado em Virologia da Universidade Feevale, a decisão é "absolutamente acertada" e já vinha sendo adotada em outros países. Já o chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Eduardo Sprinz, destaca que, embora não haja estudos concluídos com este grupo específico, é recomendado vacinar.
— A única que tem estudo em gestantes, ainda sendo conduzido, é a Pfizer. Mas os dados ainda não foram publicados. Temos evidências, principalmente do Reino Unido, de que as que fizeram a primeira dose da AstraZeneca e a segunda da Pfizer aumentaram a proteção. Então, faz todo o sentido tentar transpor o que conhecemos para a nossa realidade. A gestante tomar a CoronaVac como segunda dose mal não vai fazer porque ela é segura, mas não há evidência de que produzirá um benefício. Ao contrário da Pfizer, em que há evidência de benefício — explica Sprinz.
Na segunda-feira passada (26), o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz, anunciou que o intervalo entre as doses da vacina da Pfizer/BioNTech diminuirá de três meses para 21 dias, como estabelece a própria bula. No Brasil, a pasta estendeu o tempo com a justificativa de que ajudaria a vacinar mais pessoas com a primeira dose em um intervalo de tempo menor, contrariando, assim, a bula do imunizante.
— Finalmente, iremos seguir o que é preconizado no protocolo original da vacina. A decisão é ainda mais importante do ponto de vista em que permite avançar mais rápido para uma imunização completa, o que parece ser muito relevante para um controle adequado, seja da variante Delta, ou mesmo de outras variantes conhecidas — comenta o coordenador da Rede Corona-Ômica BR-MCTI.
Adesão às recomendações
Outra alteração ocorreu no âmbito estadual, na semana passada, quando a Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS) acatou pedido feito pelo Conselho dos Secretários Municipais da Saúde (Cosems-RS) para que o intervalo de 12 semanas entre a primeira e a segunda dose da vacina AstraZeneca fosse retomado. A medida é uma volta atrás de decisão anunciada no dia 12, quando a SES havia encurtado o intervalo para 10 semanas como ação preventiva frente à suspeita de dois casos da variante Delta que estavam em investigação no Estado e que foram confirmados nesta semana.
Segundo o coordenador da Rede Corona-Ômica BR-MCTI, independentemente de serem 10 ou 12 semanas entre as doses de AstraZeneca, os intervalos são próximos, do ponto de vista da resposta imunológica. A variação nesse caso, se houver, deve ser muito reduzida.
Sprinz ressalta que o vaivém das informações relacionadas às vacinas depende muito mais do conhecimento que vem sendo produzido, da disponibilidade delas e do momento de pandemia que cada localidade está vivendo.
— Como as coisas estão sendo feitas a toque de caixa, muitas das decisões e das condutas são baseadas numa única evidência, e depois vão se construindo outras evidências. E há diversos cenários. Por exemplo, se não há um número expressivo de vacinas, vale a pena espaçar as doses porque se ganha tempo para receber novas doses. Uma estratégia para que não falte vacinas seria a extensão do prazo. Mas, se há um pico no número de casos, tenho que dar a vacina para o maior número de pessoas e que seja a que protege mais rapidamente — destaca Sprinz.
Para o médico Alessandro Pasqualotto, chefe do Serviço de Infectologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), a população precisa aderir às recomendações, à medida que os estudos vão mostrando a melhor maneira de se imunizar.
— Não há um limitante, mas uma modernização da informação. Cabe à população ficar atenta às recomendações oficiais do Ministério da Saúde, que deve seguir as recomendações científicas — finaliza Pasqualotto.