Em meio ao avanço da vacinação, o número de pacientes com covid-19 em unidades de terapia intensiva (UTIs) de Porto Alegre voltou a ficar abaixo de 200 e chegou ao menor patamar em mais de um ano nesta terça-feira (27).
Dados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) analisados por GZH mostram que havia 185 doentes internados até as 17h – ocupação mais baixa provocada pelo coronavírus desde 7 de julho do ano passado, quando a Capital ainda testemunhava o crescimento da primeira onda da pandemia e havia 181 pessoas com coronavírus nas UTIs.
Até a publicação desta reportagem, somente o Hospital Vila Nova, entre as instituições que costumam atender casos de covid-19, não havia atualizado suas informações diárias.
— O número de internações vem caindo por vários motivos, mas o principal é termos aplicado mais de 1,2 milhão de doses de vacina. Se novas remessas chegarem até quinta-feira (29), esperamos atender as pessoas com 30 e 29 anos ainda nesta semana — afirma o secretário municipal da Saúde, Mauro Sparta.
A nova marca de desafogo hospitalar ocorre no mesmo dia em que Porto Alegre alcança outro índice positivo: um terço da população beneficiada com esquema vacinal completo contra o coronavírus. As estatísticas mostram que 33,35% dos porto-alegrenses receberam duas doses (ou dose única da Janssen) e quase 55% receberam pelo menos uma aplicação.
Há uma relação entre completar a imunização de um terço dos moradores da cidade e alcançar a menor ocupação de UTIs por covid-19 desde julho do ano passado, afirmam três especialistas ouvidos pela reportagem.
O médico Eduardo Sprinz, chefe da Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), destaca que a maioria dos porto-alegrenses com esquema completo é composta por idosos e pessoas com comorbidades – justamente a população mais vulnerável a casos graves de coronavírus.
— Temos um número mágico para atingir: 30% da população com esquema vacinal completo para proteger quase toda a nossa população vulnerável. Se a população vulnerável está protegida contra formas graves da infecção, ainda haverá casos de covid, mas não tão graves quanto antes. A partir de agora, veremos um aumento na proporção de casos leves e moderados, mas sem grande aumento de casos graves. Precisamos continuar vacinando e, quando tivermos 50% da população protegida, aí poderemos flexibilizar mais — diz o médico infectologista.
O médico Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), destaca que a vacinação traz cada vez mais impactos positivos em Porto Alegre, mas alerta que o cenário não pode ser entendido como fim da pandemia, sob pena de a situação piorar com o relaxamento.
— Temos diminuição de internações e mortes com o avançar da vacinação. Mas não dá para usar isso como motivo para não se vacinar ou não fazer a segunda dose. Não estamos ainda no momento de relaxar. Países mais adiantados do que nós na vacinação tiveram que voltar atrás na liberação. Temos a nosso favor que, diferente dos Estados Unidos, nossa adesão será mais importante à vacinação, porque o brasileiro acredita e confia nas vacinas — afirma Cunha.
Alguns Estados norte-americanos, a despeito de terem vacinas ofertadas para todos os habitantes, não conseguem ultrapassar os 40% de imunizados com duas doses, caso do Alabama, onde 34% da população realizou esquema vacinal completo. Para comparação, o Rio Grande do Sul está com 25,4% dos gaúchos com duas aplicações ou dose única.
Como resultado, as hospitalizações em UTIs também estão em queda em solo gaúcho. Nesta terça-feira, havia 892 pacientes com coronavírus em terapia intensiva em leitos públicos e privados no Estado, o nível mais baixo desde 14 de fevereiro, quando 875 pacientes com covid-19 estavam internados em terapia intensiva.
O médico Fabiano Ramos, chefe da Infectologia do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), cita que a maioria dos pacientes hoje internados na capital são mais jovens, não vacinados.
— Isso não quer dizer que idosos e pacientes com doenças crônicas não apresentarão doença, mas certamente a vacinação, com esse percentual atingido, trouxe impacto bastante grande. Nos próximos meses, com a circulação da nova variante, entenderemos como a epidemia vai se comportar. Agosto e setembro serão meses bastante importantes — conclui Ramos.