Com a retirada, pelo governo estadual, dos últimos sete alertas de risco que estavam em vigor no Sistema 3As de gestão da pandemia, o setor de eventos começa a se articular para tentar uma retomada após tantos meses de restrição à atividade. A secretária de Saúde do Rio Grande do Sul, Arita Bergmann, foi questionada sobre a retomada desse setor durante entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira (14). Ela afirmou que, a pedido de uma empresa, o governo do Estado está "oportunizando o acompanhamento do projeto de um chamado evento-teste".
A empresa — cujo nome não foi citado pela secretária — se comprometeria a adotar os protocolos necessários para que se verifique a quantidade de pessoas que um determinado espaço pode comportar. Conforme Arita, o Estado está "analisando a oportunidade de retomada gradual dos eventos com a segurança necessária", incluindo testagem para o coronavírus e regras para circulação de pessoas dentro dos ambientes.
— Evidente que sempre há risco, mas será uma oportunidade porque as pessoas serão, todas, previamente testadas— afirmou a secretária.
Nesta quarta-feira, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, submeteu ao gabinete de crise do governo do Estado uma proposta para a liberação gradual de eventos na Capital e em municípios vizinhos. Quem participar desses eventos presenciais deverá ser submetido a uma testagem no momento da entrada, com aprovação da Vigilância Sanitária local e de um responsável técnico quanto à eficácia do teste de antígeno.
De acordo com Arita, o material preparado pela prefeitura será analisado no GT Protocolos e no GT Saúde assim que for recebido.
— Esperamos, no próximo gabinete de crise, na próxima semana, já termos algum retorno em relação à questão dos eventos, que vai servir não só para a Região 10 (que envolve a Região Metropolitana), mas que terá protocolos para as demais regiões do Estado. Os protocolos já existem, é mais para verificar, na prática, o que é possível flexibilizar — afirmou.
Avaliação de especialistas
Na visão do infectologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Alexandre Zavascki, a decisão do governo de avaliar a possibilidade de um evento-teste é precipitada, já que a redução nas hospitalizações tem sido lenta.
— Não encontro nenhuma razão para fazer um evento sabidamente associado à disseminação de casos. Mas faz parte da estratégia que vem sendo adotada, sempre apostando na possibilidade de que não ocorra, mas flertando com situações de extremo risco — afirma.
O especialista alerta para o fato de que o teste antígeno tem uma sensibilidade inferior, especialmente em casos assintomáticos.
— O teste ajuda, mas não elimina o risco. Temos inúmeros exemplos de eventos desastrosos ao redor do mundo. Pode até ser que um evento, único, dê certo. Mas se começarmos a fazer muitos, poderemos ter problemas — diz.
Para Eduardo Sprinz, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, a retomada dos eventos deve ser avaliada com "parcimônia e conservadorismo". O especialista acredita que seria melhor aguardar mais tempo para o retorno de eventos de maior porte, a fim de que a cobertura vacinal se amplifique.
— Não queremos que a variante P.1 (Gama) ou Delta avancem pelo nosso país. Se tivermos aglomerações, vamos estar contribuindo para a disseminação da infecção, o que no futuro pode ter consequências não tão boas. Além disso, será que todas as vacinas vão proteger de forma igual contra as variantes? E será que quem recebeu vacina no início do ano ainda está protegido? Precisamos nos questionar — afirma.